Este é para ti. Que passas mais tempo a pressionar-te do que a refletir sobre o que construíste.
Deixa que te guie numa viagem de doze meses, no que eu vivi através de ti. Porém, revelo em antemão, que 365 dias não foram suficientes para curar o teu mau-feitio, mas já pensas (um pouquinho) antes de falar. Os teus grandes olhos estão mais transparentes e o teu sorriso é o maior, de todos os anos que passaram. É aquele, o genuinamente verdadeiro.

Recebeste Janeiro de 2017 descalça, dos dois pés, e a chorar baba e ranho na pista de dança. (O príncipe encantado não passou New Jersey a pente fino à tua procura). Perdeste os sapatos, a noção de sobriedade e a alegria. Foi a primeira vez que passaste a passagem do ano fora dos teus e isso doeu. Uma dor repartida em duas, porque às 19h americanas era já 2017 em Portugal, passaste o ano a dobrar.

Lágrimas de alegria pintam Fevereiro, tuas e da Mel. Passaste o dia de São Valentim em Nova Iorque com a única amiga tão louca quanto tu, gémeas em pensamento e na graça de viver. A Mel foi a primeira a ir ter contigo e a demonstrar-te o quanto orgulhosa estava da tua caminhada. No dia dos namorados, a nevar, foram a Nova Iorque para um evento de solteiros. As mesas estavam decoradas com campainhas e cronómetros, a Mel fala pouco inglês e por todos os motivos a tentativa de encontrares o teu amor, nesse dia cliché, foi um fracasso hilariante.

Em Março casaste as datas em Las Vegas, 27 primaveras no dia 27. Fizeste questão de reunir 27 homens numa fotografia. O porquê é ainda uma incógnita. No entanto, não foi em vão que alguém, muito sabiamente, disse que o que acontece em Las Vegas fica em Las Vegas. Eu partilho esta regra, mantém a integridade e dignidade de muitos. Incluindo a tua e a minha. Foi o melhor aniversário da tua vida. Desconheço a existência de outro ser humano que adore tanto o dia de aniversário quanto tu. Como vais superar este?

Abril foi escrito com uma caneta e no verso de um talão de supermercado. Em Abril começaste a escrever, sentada no chão e enquanto chovia as primeiras gotas da Primavera.
Estavas a viver fora de um ninho familiar, pela primeira vez desde sempre. Dividias casa com a melhor pessoa que te poderia ter aparecido. Partilhaste com ela as contas, o frigorífico, os pequenos-almoços, os passes do ginásio e a tua liberdade ao escrever. Foi ela a primeira ouvir os teus textos em inglês. Abril foi o mês que me deste forma, voz e nome.

As noites não dormidas em Maio deram fruto a várias escritas e ao lançamento do nosso blogue. Foi com receio que me deste a conhecer ao teu mundo. Descobriste que escrever em português combatia a saudade e fortalecia as pontes que te ligam a Portugal. Em Maio, o teu sorriso expandiu da boca para a tua alma.

Em Junho os shakers balançaram nas tuas mãos, voltaste a ser bartender. Não por necessidade mas por gosto, e porque me querias levar a viajar. Verdade seja dita, praticaste o inglês, distraíste o pensamento saudosista, armazenaste gorjetas e apresentaste-me a todos. E que sorrisão tu ofereceste quando te chamaram pelo meu nome e não pelo teu.

Julho, o mês de andar sem sutiã, nua e descalça. Alugaste um espaço só para ti, para nós. Começaste a viver sozinha. E deixa que te diga… tens uns hábitos peculiares. Apanhas as coisas com os dedos dos pés, fazes flexões de madrugada e karaoke com a escova do cabelo. Cozinhas com amor e dás-te uma palmadinha nas costas quando acertas nos temperos. Entre outros… Eu sei que estás feliz quando ages assim.

A Vanessa chegou em Agosto. Com ela trouxe Portugal, a vossa adolescência e os sonhos que vos deixavam em êxtase. Exploraram Nova Iorque, arredores e rumaram a Cuba. Foi um sonho tornado realidade, que resultou em dezenas de memórias boas. Antes da Vanessa embarcar choraram abraçadas, foi difícil aceitares a solidão e a porra da saudade.

E Setembro não ajudou. Com a mudança de estação, também a Anna mudou e o teu medo ganhou forma. Viste-a pela primeira vez sem a rama cabeluda. Vê-la assim lembrou-te da Maria Alice, a tua Alice. No entanto, ela demonstrou-te a fibra de que é feita. Estar longe roeu-te por dentro, causou danos colaterais e deixou-te vulnerável. Com ela em pensamento, foste contando os dias para a abraçares de novo.

Para entreteres o pensamento viajaste por Outubro. Em Boston reviste os teus amigos de secundário, que decidiram trazer ao mundo um anjinho de nome Kyle. Nesta idade sair à noite pouco importa, as noites caseiras de sueca e sushi encomendado são os planos de eleição com eles. Porém, gostas de ir para a gandaia, e no final do mês rumaste a Miami para celebrar o Halloween em bom.

Novembro deu-te coça. A estabilidade profissional andou de montanha russa e virou o teu psicológico do avesso. O stress alterou-te as hormonas e enfraqueceu-te, mas a vinda da tua mãe acabou com a viagem de carrossel. 25 anos depois trouxeste-a aos EUA. Foi uma lufada de ar fresco. Quase te perdi neste mês.

Finalmente… Dezembro. Na ardósia traçaste, a giz, os dias que te separavam de Portugal. Embarcaste no avião e não pregaste olho nas 7 horas de viagem. Quando as rodas do avião rasparam no chão, bateste palmas e uma lágrima deslizou de alívio. Correste pelas portas de vidro e procuraste-as com o olhar. Elas estavam lá, as três, para te receber às 6h da manhã. Sem sono, queixas ou lamentos. Tens sorte miúda, muita sorte.

 

Foi 2017.

Pela primeira vez estás entusiasmada com o novo ano. Ao contrário dos outros anos, não compraste as cuecas azuis ou os bilhetes para as festas badaladas. Sentes que 2018 é o teu ano, o nosso ano. Com mais viagens, mudanças e prolongamentos da escrita. Com amor, bondade e proximidade a casa.

Em algum momento de 2017 carregaste pedal a fundo e não há travão que te abrande ou imobilize.

2018 Vem daí, que nós estamos prontas!

/Alice

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3 Comments

  1. Filipa Rocha

    Se me cruzasse contigo (por mero acaso, ou não) agora em Aveiro, mesmo estranhas, esborrachava-te num abraço!

    Prestes a partir revejo-me em tanto o que escreves, sofro por antecipação e as lágrimas teimam em aparecer.

    Coragem (para ti, para nós) e um beijinho do tamanho do 🗺

    • Michelle Rita

      Filipa Rocha, terei todo o gosto! Envia-me uma mensagem no Instagram e vamos esbarrar-nos propositadamente 😊

  2. Não te conheço, apenas te “descobri” por causa de seguir a Vanessa. Nem sou muito de comentar as coisas que vejo das outras pessoas, mas não consegui resistir a deixar uma palavrinha. Tens um talento incrível para escrever (e acredito que a intensidade dos sentimentos ajude), e esse talento revela o exemplo de força e coragem que tu és.
    Continua com essa escrita maravilhosa que me cola ao ecrã e a inspirar quem lê os teus textos (que acredito ser imensa gente), e muito sucesso para a tua vida 🙂
    Beijinho