É Pappy, parabéns! Seguido de um sorriso malandro, epá, obrigada!
Um abraço desajeitado, um almoço de domingo, um soprar de velas, um presente improvisado e uma máquina fotográfica em punho.
Tantas vezes o fizemos, tantas vezes pareceu déjà vu, sempre a mesma coisa…
E hoje, parece o quê?
Onde quer que estejas, espero que sintas este coração órfão, de ti. E se isto for como o filme Coco, não te preocupes, há de sobra quem te guarda na memória. O teu retrato continua a levitar em pensamentos sofridos e pendurado ao peito de quem te sente tanta falta.
Tem dias, e momentos, que me creio doida. Tem dias que me falam durante largos minutos, comigo a olhar-lhes nos olhos a anuir, e a ouvir nada do que me dizem. Estou longe, demasiado longe para querer explicar onde estou, com quem estou e como ali fui parar.
Quase sempre, estou contigo. Juntos, no nosso frasquinho de boas memórias.
Cortei o cabelo e nem dizes nada, está bom assim?! Perguntavas-me enquanto passavas os dedos pelo cachaço penteado. Eu dizia sempre que estava bom. Porque de fato estava, e nem tu permitias que o barbeiro se armasse em artista de circo.
Esta camisola está boa assim? Eu estou mais magro, não estou?! Eu dizia que sim. Às vezes estavas mais magro, outras vezes, aos meus olhos, estavas igual. Mas eu dizia sempre que estavas mais magro. Porque te conhecia, e te amava, e te amo. Não queria deixar-te inseguro, porque sei que a poucas pessoas davas acesso a ti, ao teu íntimo, ao teu eu mais escondido. Que afortunada fui, mesmo que por pouco tempo.
Caramba, pappy!
Eu ainda não sei o que fazer! Dizem-me para não te chamar tantas vezes porque te tiro a paz, mas… fazer o quê?! Ah…. as pessoas que sabem tanto do além…
O ano passado ofereci-te um livro, escrito e publicado. Quem comprou ficou a saber de ti, da importância que me tens e do amor, e saudade, que te sinto. Este ano vou mais longe. Vou procurar-te no mundo que juntos visitámos. Quero conhecer quem te conheceu e quando a viagem terminar…. E depois disso, eu não sei.
Até lá sabe que és amado, que a tua ausência não me faz desleal ou vira casacas. Continuo a mandar os outros ver se está a chover e a rir, histericamente, da lista de títulos cinematográficos improváveis, que inventavas. Como “O roubo da esferográfica” ou “O regresso daqueles que nunca foram”.
E obrigada, obrigada Pappy por me teres dado uma irmã com o teu humor, casmurrice e garra. Assim não me sinto sozinha, não me rio sozinha e não te amo sozinha.
Foste um pai do caraças! Não vou escrever asneirolas porque me sacudirias as orelhas.
Mas foste e és um pai do caraças! O que seria de mim sem 28 anos de ti.
Eu amo-te.
Hoje, há bagaço no café.
Eu amo-te, até que o sol não mais nasça, até que as ondas não se enrolem e até que o vento seque.
Eu amo-te, muito mais do que sabia. Muito mais do que alguma vez te disse.
Ouve-o agora, por favor.

Author

Comments are closed.