Foi sentada numa cadeira, debruçada sobre uma mesa de madeira, à beira mar na Costa Rica, que o plástico não me chegou. Alguém bate com o copo alto de vidro na mesa, aproximo os lábios e quando os aperto contra o largo canudo, estranho a textura. A palha que enfeita o sumo natural de papaia é feita de papel. Afasto-me, lentamente, do copo, apalpo a palha com o polegar e indicador direito, olho em redor e encontro a informação que desconhecia e necessitava. Estava num bar que não serve plástico. Um bar sustentável, amigo do ambiente, dos oceanos e também das tartarugas. (Sim, amigo das tartarugas).
Sorri, e pouco ou nada me importei. Porque também nada ou pouco sabia do assunto. E estava de férias, não havia pachorra ou tempo para me preocupar com o meio ambiente. (Esta frase que seja relida com dosagem elevada de sarcasmo irritante).
Oito meses depois, na escola que me ensinou a ser gente, há uma segunda tentativa, do universo ambiental, em me abrir os grandes olhos que tenho. E se dizem que não há duas sem três, neste caso foi mesmo à segunda.
Aguardava a minha vez de palestrar, para apresentar o livro que publiquei, quando um dos oradores me eletrocutou os sentidos.
Mais até.
Me fez sentir ridícula, pequena e mesquinha. Falou ele do plástico que polui os nossos mares e oceanos, do lixo que boia na água, que dá à costa e que apodrece no meio das dunas e rochas, e que ele recolhe todos os dias. Mas foi mais longe. Falou do comodismo, do consumismo, da futilidade e da falta de noção. Fez ver que andamos a viver mal! Em excesso, e mesmo assim insatisfeitos e insaciáveis!
Lembro-me de o estar a ouvir, de sobrancelhas franzidas, de boca meia aberta, com o antebraço direito pousado em cima do umbigo, com o cotovelo esquerdo encaixado na mão direita e com os dedos esquerdos pendurados no lábio superior. Fui enverada pela verdade.
Este Homem era como eu, da mesma terra que eu, quase da mesma geração que eu e parecia um extraterrestre. Alguém doutro mundo que falava de coisas importantes, angustiantes e imediatas! Problemas e os seus impactos ambientais que estão a acontecer agora!  Não num futuro longínquo e em lugares que nunca ouvi falar.
Aqui e agora!
Foram vários os exemplos que ele relatou, hábitos supérfluos que fazemos acreditar vitais. Mostrou também vídeos que fazem o estômago doer. Senti-me enojada, não por ele, não pelos outros mas por mim. Levantei-me e fui embora, qualquer palavra que proferisse depois dele seria também inútil. Não palestrei.
A verdade é que vivemos numa sociedade consumista, que entope o ego e despreza o eco. Que se apercebe da miséria, da desgraça, das mudanças climáticas, dos oceanos a flutuar de lixo, das tartarugas que snifam palhinhas, dos peixes e gaivotas que comem plástico. Uma sociedade que pouco ou nada faz, onde tu pouco ou nada fazes, onde eu pouco ou nada fazia. Porque pensamos que o pouco que fizermos não grita mudança, não grita a salvação do mundo. Convencemo-nos que o pouco mal que fazemos não tem repercussões. E se todos pensássemos o contrário?
Em casa, sentei a minha família e despejei epifanias pouco originais. Decidimos levar a reciclagem mais à séria e reduzir, à grande, o uso e compra de plástico. Mudar foi e é desafiante. Especialmente quando nos apercebemos que muito daquilo com que nos rodeamos é, tem ou vem em plástico. Mas comprometemo-nos a fazê-lo, não porque fica bem, não porque vamos mudar o mundo mas porque, numa perspetiva egoísta, nos sentimos melhor quando tentamos praticar o bem. Abraçámos hábitos de vida sustentáveis, por um planeta melhor, em família e individualmente. E sem me intitular de ambientalista, defensor dos animais ou guerreira da terra, porque sou uma leiga no assunto, exponho o que mudei. Para que sirva de incentivo para fazer mais e, quem sabe, ajudar quem quer começar mas não sabe bem por onde:
– As garrafas de plástico, companheiras dos treinos físicos diários, deixaram de existir. Uso apenas uma garrafa e de metal, que encho todos os dias com água do garrafão. (Ainda não encontrei solução para comprar água no hipermercado que não se venda em plástico).
– Os sacos do lixo são reutilizáveis.
– A escova de dentes de plástico é agora de bamboo.
– Não uso palhinhas de plástico. No entanto, com o aumento do consumo de vinho tinto, comprei uma palha metálica que previne as manchas na dentadura esbranquiçada.
– Não se compra manteiga que dorme em embalagens de plástico.
– Copos, talheres, pratos, toalhas de plástico e balões também foram abolidos.
– Abandonei os pensos higiénicos, tampões e aderi ao copo menstrual.
Se o copo menstrual é objeto mais cómodo e prático mundo? Não, não é. Mas os ligueiros, o sutiã push-up, as pestanas falsas e os sapatos de salto agulha também não o são.
Foi difícil habituar-me a novos procedimentos tão díspares daqueles que adotei desde que “me tornei mulher”, aos treze anos. É estranho e gera algumas confusões mentais, quase fez desistir. No entanto, para além de aliviar a carteira reduz, em muito, o desperdício de plástico, papel e algodão. E se sozinha pouca diferença faço, na minha casa são mais três mulheres que menstruam. No grupo de amigas próximas são mais quatro. Neste blogue, são quase mil. Percebes onde quero chegar?
Representando-me como próprio advogado do diabo, sei que a principal fonte de plástico que polui os oceanos são as redes de pesca. E não os saquinhos, as palhinhas, as escovinhas, os pensinhos ou as embalagenzinhas. Porém, não podendo ou querendo mexer em hábitos alimentares aconselho vivamente à sua redução.
Vamos reduzir o nosso comodismo.
Não só do peixe, mas também da carne, dos banhos longos, dos estacionamentos à porta dos sítios a ir, do atirar das beatas para o chão, do deixar voar os papéis das pastilhas elásticas pelo vidro e do consumo excessivo de peças de roupa.
Vamos conservar, reutilizar, preservar e reciclar.
Sei também que quem pode arrastar massas e fazer a diferença são os tubarões e não arraia-miúda, que nada neste aquário, como eu ou tu… Mas, mesmo assim… Tem de haver o que fazer!
Já não é piroso ser defensor do ambiente, vá lá… adere a esta moda.
Não há plano B, não há planeta B.
Somos colegas de casa.
Esta casa é nossa.
Esta é a nossa única casa.

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1 Comment

  1. Ana Lages

    Olá Rita!! Apesar de já termos trocado algumas mensagens no Instagram, em modo reação aos teus posts, possivelmente não me irás reconhecer… Só quero dizer que acabaste de subir mais um patamar na minha consideração, pelo simples facto de teres tido coragem de pôr o dedo na ferida, de teres tido a coragem de tocar num assunto “tão chato e desinteressante”, porque já levámos com ele há anos! Mas a verdade é que as consequências estão verdadeiramente acontecer! Eu luto todo os dias para passar uma mensagem, para que todos comecem a melhorar os seus hábitos de consumo e para que se ganhe consciência de todos os problemas ambientais. É a minha luta pessoal, diária! E eu sou tão pequenina, que sinceramente, se conseguir mudar atitude de uma pessoa já é uma vitória! Mas tu Rita, já começas a ser grande, já começas a ter uma imagem e impacto na vida das pessoas. Tu podes realmente fazer a diferença ao incentivar à mudança! Tanta coisas que outros grandes como tu, ( e ainda maiores) podiam fazer para mudar este consumismo desenfreado! Mas ninguém o faz… Porquê? Porque é chato e aborrecido e ninguém quer saber… Ninguém quer ver ou ouvir stories de tartarugas emaranhadas em redes, de 20kg de plástico num estômago de uma baleia ou de “mares” de lixo flutuantes… Eu faço-o porque é um dever que sinto, uma responsabilidade por ser amante da natureza e bióloga… Obrigada por tocares no assunto, de verdade! Por favor não pares de tentar sensibilizar! 😊🙌