Incontáveis vezes vi a Alice. Vi-a em Amesterdão numa pequena doçaria sentada junto à vitrina, a beber um café, a trincar um queque de mirtilos e a escrever. Admirei a Alice não só aí mas todas as outras vezes que a vi, no mesmo cenário só mudando o que comia e o que vestia. Vi-a em Londres, Bali, Paris, Roménia, Brasil, Portugal, Aveiro… Vi-a tantas vezes! Sempre com o seu ar sereno e confortável, com o cabelo mal apanhado, liso, encaracolado, molhado, curto ou comprido. Na janela a saborear, a observar e a escrever.

Várias vezes senti a Alice. Quando não sabia escrever e pintava, abstratamente, as minhas intenções ou quando aos sete anos me queixava das linhas que a professora não me deixava escrever. À medida que crescia a Alice foi ganhando voz, forma e a minha atenção. Quando finalmente a conheci, através de uma caneta e de um papel, abracei-a. E nunca me senti tão livre como a partir desse momento!

Hoje sou eu e a Alice, numa qualquer vitrina, a contemplar, a escrever e a discordar das calorias a consumir. Hoje a Alice vive.

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