⁃ Eu vou mais tu, compramos o peixe na peixaria e dás-lhe. Não precisamos de ir à pesca.
⁃ Tu deves pensar que a minha mulher é burra!
Sorri.
Estava na porta de embarque. Na minha frente uma fila de portugueses, no outro lado do avião Portugal.
Não dormi durante a viagem, não só por estar no lugar do meio, da fila do meio e no meio do avião, mas porque a ânsia de aterrar era desconcertante. Assim que as rodas roçaram no chão, alguém inverteu a ampulheta e areia caiu em contagem decrescente.
O tempo, o único inimigo da minha saudade. Todo o tempo do mundo nunca seria suficiente.
Depois de uma paragem obrigatória na alfândega, a minha viagem emocional começou. E as visitas a todas as capelas também. Entre trabalhar remotamente, escrever, conviver, celebrar o Natal, comprar presentes e passar a passagem do ano em cima de uma cadeira, houve momentos em que desejei ser duas.
O Pets e a Sasha reconhecem-me só quando me cheiram a pele e ouvem a minha voz. A gata, corre a sete pés. Talvez me tivesse reconhecido.
O meu pai recebe-me com um ar dorminhoco, a minha avó limpa a terra das mãos e abraça-me com amor. A minha mãe chora de alívio por me ter perto.
Abraçar as minhas irmãs, após nove meses de distância, sabe a pouco. Ver o sorriso do meu avô dá-me conforto e o reencontro com os meus faz-me querer ficar.
Há pessoas que não vi. Por falta de tempo, agenda, coincidências ou porque a distância enfraqueceu os laços. Este é o maior preço do emigrante. Nada volta a ser o mesmo, seja para o bom ou para o mau.
Houve quem fez questão de me abraçar, de estar, de partilhar vinho e jantares. E no meio de toda esta correria, várias mãos desconhecidas me tocaram no ombro:
⁃ És a Alice, não és?
Sendo eu a rainha do improviso, estranhei a minha total falta de reação. Fiquei sem jeito e balbuciei palavras e sons nervosos. Senti-me a levitar pelo espaço, como se aquele momento, onde me reconhecem através da escrita, não me pertencesse e fosse irreal.
Alguém me disse ainda “faz um favor ao mundo e não pares de escrever”. E eu quase desmaiei de espanto, não fosse a adrenalina que estas palavras me injectaram. Também por isso, ganhei impulso para dar corpo ao meu livro. E é pedal a fundo agora.
Sinceramente, não quero voltar. Não quero mesmo ir.
Algo me prende muito mais aqui agora, tenta-me a ficar. Faz-me querer não despedir de mais ninguém. Cada mini retorno tem se tornado mais doloroso, porém não bastante para não vir.
Dói.
Não quero virar costas.
Não quero mesmo ir embora.
Mas ainda há lá o que fazer.
Até já Portugal, seja quando e de que jeito for .
5 Comments
❤ força. A vida é direita por linhas tortas. Tudo a seu tempo. Tudo tem uma razão de ser 😘
Ai Alice, como eu te percebo. A 5 anos na Holanda e ainda não me consigo conformar. Sei que não sou a única a viver o mesmo, mas temos sempre aquela sensação “igoista” de achar que só nós é que sofremos e que ninguém consegue compreender. Doí muito, se dói. E o passar do tempo também não ajuda, só aumenta a dúvida, se devo regressar ou conformar-me e ficar de vez?!
Gosto de ti e nem te conheço. Gosto de ler as tuas histórias, não me sinto tão sozinha neste sentimento “estupido” mas tão real.
Mas… importante é pensar positivo e o mundo vai rolando. Girl, I’m with you.✌🏼👌🏼🙌🏽
Sendo sincera…. Nao te quero ver a ir embora! Fica por favor!
Vei me a lágrima ao olho! 😘❤😢
Sendo sincera…. Nao te quero ver a ir embora! Fica por favor!
Vei me a lágrima ao olho! 😘❤😢
Se for possivel…!! Antes de ires…por favor mais um abraço
😢😢 ❤
Emocionei-me ao ler, porque ?! Porque houve uma altura que pensei em emigrar, so pensava em ter uma vida melhor, conhecer outras pessoas , outro pais. Mas na realidade nao sabemos o que realmente é emigrar, porque as pessoas que emigram sofrem muito, fazem emensos sacrificios. E tu és uma pessoa dessas que hoje das valor e sofres por isso!
Adorei ler a tua história 😙😙