Tu não me conheces, nunca vais saber quem eu sou.
Nem tu, nem os meus pais ou eu. Nem agora ou nunca.
Mesmo que me ouças, vejas, leias, fales, comentes e estejas no mesmo metro quadrado que eu. Tu não me conheces, nem a mim ou a outro alguém, em todo o seu todo.
Posso eu estar vestida da cabeça aos pés ou toda nua à tua frente e, mesmo assim, tu não me conheces.
Tu não sabes quem sou pela roupa que visto, pela cor de batom que uso ou pelo comprimento do meu eyeliner.
Posso eu tatuar todo o meu corpo e não traduzir bandidagem, putaria, falta de profissionalismo ou carência.
Posso eu fumar erva e não ser drogada. Beber um litro de vinho ao almoço e não ser alcoólatra.
Posso eu fotografar em bikini decotado, de tanga ou de cinta subida e não querer ser modelo capa de revista ou boato de mesa de café. Porque mostrar mais ou menos pele não me faz menos consciente das palavras que profiro, escrevo ou tão pouco me torna vulgar.
Posso eu fazer o que quiser sem que me cataloguem, sem ser da tua conta ou recipiente de opiniões pessoais não solicitadas.
Mas falemos da pouca nudez. E da cusquice.
Não publico fotografias com menos roupa esperando cinquenta comentários que me alimentem o ego ou que me inundem a caixa de mensagens com convites pouco férteis e muito rebarbados. Partilho porque gosto, porque faço fotografia desde que me considero gente e porque me apetece.
E porque me apetece deveria chegar, mas não.
Alguém que escreve blogues e livros deve preservar a imagem, deve comportar-se de outra forma. Porém, não poderei gritar as mais estapafúrdias e ignorantes palavras a vestir um hábito de freira?
Os meus pensamentos não usam roupa, mas o que a minha boca profere usa cinto apertado.
Aprendi que a palavra é arma de guerra, a mais mortífera e duradoura. Podemos destruir e dar vida a alguém só com palavras. Há palavras que se cravam na memória para toda a vida, outras que não trespassam os tímpanos. Atenta no que digo, críticas construtivas são bem-vindas, sempre!
Não somos cavalos com palas, ou ervilhas no canto da sala. Vivemos juntos, somos comunidade, somos seres racionais e livres em pensamento. Opina, opina sim. Mas sobre o que escrevo e te partilho, opina sobre o meu trabalho. Não importa quem beijo, deito, ignoro, janto, lancho ou viajo. Se fumo pela boca ou nariz, ou se não fumo. Isso é meu departamento e negócio.
E tu, qual o teu?
Estou do teu lado, porra!
Estou do lado de quem faz o que bem lhe apetecer. Mas não pelos outros. Não porque está na moda, porque dá likes, porque alguém disse. Não deixes de ser tu só porque alguém pensa e te diz diferente.
Eu não permito que ninguém me tente mudar e lido muito mal com opiniões pessoais, (sempre tão inocentes) começadas por não:
“Não faças o que tens feito”.
“Não remes contra a maré.”
“Não vais mudar pensamentos antigos.”
“Não tens idade para isso”
“Não chega de estares solteira?”
“Não voltes já para Portugal”.
“Não sejas tão emotiva.”
Não. Não. Não.
Merda, não!
Eu faço o que bem quiser e me apetecer. A vida é minha, as decisões e cabeçadas na parede também me pertencem, obrigada.
Sempre assim foi, a vida toda. Esta atitude em criança valeu muitas sovas de porrada, hoje permite-me fazer malas e atravessar oceanos.
Não sigo modas.
Quando ser morena já não tiver piada e as ruivas voltarem à carga eu não vou pintar o cabelo de laranja. Eu visto o que se usa e aquilo que agora já é feio. Saio de casa de fato-de-treino e chinelo de dedo, de vestido de gala, de maria-rapaz, de calções curtos ou macacão de gola alta. Porque pouco me importa se o vizinho vai achar que sou parola. Não vivo pelos outros e também não escrevo para agradar. Vivo por mim, e como nem sempre assim foi, sei que há verdade no que agora escrevo.
As raparigas masturbam-se e os rapazes choram.
É.
Qualquer ser vivo solteiro pode estar com quem quiser, à hora que quiser e fazer o que quiser. Pode apaixonar-se mil vezes, ter sexo sem amor e amor ao sexo.
É pecado, crime, falta de respeito?
Não é lady like? Não fica bem no currículo moral?
Quantos beijos de língua posso eu dar? Bate chapas também conta?
Fiquemos então com um único alguém que nos faz miseráveis e não prioridade. Que nos tira a voz, embacia o nosso reflexo e nos faz acreditar que somos menos metade do pouco que já nos achamos.
Casemos todos aos vinte e oito.
Vamos ter todos filhos aos trinta e um.
Vamos todos adoptar um gato, tapar os joelhos com mantas do IKEA e assistir à vida perfeita que os todos os outros vivem no feed do Facebook e Instagram.
Vamos todos vestir hábitos amarelos, cortar o cabelo à tigela e calçar mocassins pretos.
Vamos todos seguir regras morais escritas, não sei bem onde, por outros humanos que se acham extraterrestres.
Não. Não. Não.
Merda, não!
Esta é a minha mensagem.
Quando a vida virtual deixar de te servir. Quando o corpo ceder à gravidade, enrugar e mandar tudo o que pendura até aos joelhos, que fique o amor nas palavras.
Quando os hábitos amarelos perderem cor, que fiquem as palavras. As mensagens de amor-próprio, de generosidade, de bons modos e de ajuda ao próximo.
Que fiquem também as minhas palavras. O que escrevo, partilho e expresso.
Vive em amor, criatividade e ama o que te faz diferente. Vive por ti e com os outros. Não deixes que os outros vivam por ti, as probabilidades de eles perceberem puto são infinitas mil.
Deixem-se de merdas, que isto de viver em rebanho já não está na moda.
Contem rebanhos quando não conseguirem dormir.
Esta é a minha mensagem.
É por isto que sou e quero ser lembrada.
Tudo o resto é da minha conta.
6 Comments
Que puta de texto!
Hoje, deste me a volta! 👏🏽👏🏽👏🏽
Texto do caralho Alice!
Tiro-te o chapéu amiga. Pf continua com esta tua índole e dá “socos” de consciencialização, podes não mudar o que está enraizado, mas ao menos fazes pensar… O que já é difícil nos dias que correm.
Beijo beijo
Sempre te vi como um exemplo de um ser libertino! E não há pior tarefa que ser libertino num mundo tão preso. Partilho cada espaço , e .final ! É essa a realidade que eu vivo e acredito. Que puta de texto 👏🏼👏🏼👏🏼
Tão bom 😊 tão eu 👍👍
O título pode acabar com vice-versa!
https://youtu.be/XV_iXZFPBCk