O dia foi feliz, pensava eu. Ela estava estranha. Estranha, como quando num grupo alegre, todos se divertem menos a tua amiga. E tu ficas sem jeito. Ela foi essa amiga, o dia todo. Pensando bem, o dia não foi feliz para ela. Fechou a porta de casa lentamente, com…
Mudei de casa e o espírito da criatividade desceu sobre mim. Finalmente ia viver sozinha, com toda a liberdade para decorar, cozinhar, deambular nua e apanhar coisas do chão com os dedos dos pés. Sem que ninguém me olhe de lado ou chame nomes. Inspirei-me em dezenas de imagens e…
Desde cedo que a terra onde nasci surgiu nos meus trabalhos da escola. Soletrada e escrita incorretamente, mas descrita com nostalgia e curiosidade. Quis o destino que me mudasse para os EUA e, quando foi possível, rumei a Connecticut. Sem expectativas, conduzi até à morada indicada, e incrédula contemplei o…
Quase sempre atrasada. Estacionava no -1, entrelaçava os dedos nas marmitas e corria pelas escadas rolantes. As portas de vidro abriam e lá estava eu no mundo encantado das cuecas! O meu trabalho era invejado por muitos, talvez por ver sempre, no mínimo, 4 pares de mamas, rabos, sovacos e…
Construí uma casa para ti, para mim, para nós. Sem paredes, um grande cubo envidraçado, não era palpável nem visível mas existia. Eu sei que existia. Estava repleta de gargalhadas contagiantes, silêncios contempláveis, carícias sentidas e olhares profundos. Cheirava a ti, a mim e a mar. E o que lá…
Quando viajo de autocarro tento ficar à janela. Sento-me, aconchego-me e quando o motor arranca, a minha mente dispara. No caminho, as diferentes paisagens surgem velozmente e o meu pensamento perde-se nas diferentes cores, texturas e sons. Fico ali, a olhar, a divagar e a transportar-me. Imagino-me a correr pela…
Cada vez mais a sentia longe e a desistir. Já não sabia o que fazer por ela. Deitada no escuro examinava o nada, embalava-se para dormir e de manhã ficava à janela do quarto. Com os braços entrelaçados e pousados no parapeito memorizava aquela paisagem, por largos minutos, para nunca…
Éramos ainda só os quatro quando, naquela noite, passeávamos pelo Fórum Aveiro em família. Aborrecidas começámos na picardia e a jogar ao “fica-te” (este é o jogo onde nunca te podes ficar. Se eu te tocar tens de me perseguir e tocar de volta, não te podes ficar). As pancadas…
A Aurora partia na madrugada daquela última noite de Agosto. Todo o Verão passámos juntas, a pedalar, rir, dançar e a colecionar ressacas. Quisemos despedir-nos com alegria e forrobodó e por isso rumámos à festa da cidade, nós e o 1.5L de TrinaVodka. No meio da praça, trauteámos as letras…
Na incerteza perco-me em pensamentos de perda e desapego. Ter de admitir que me morreste. Fugazes foram os momentos de companheirismo leal, verdade no olhar e alegria genuína que, por mim, expressaste. Mesmo assim, mudei para sempre. Pela dor obrigaste-me a crescer e nunca te vou agradecer por isso. Destruíste…