Percorria o corredor, imensamente branco e espaçoso, do aeroporto de Milano Malpensa, com a mala vermelha, e de cabine, na mão esquerda e o telemóvel na direita. Procurava o balcão da TAP e partilhava aquela caminhada, arrastada, com outros poucos humanos. Ia eu na minha serenidade quando avisto um homem,…
Gostava eu de saber como afugentar a morte. Queria eu que os salpicos de água benta a assustassem, que uma ventoinha a soprasse para longe ou que uma vassourada nas costas a paralisasse e a fizesse demorar. Estou farta da morte. Estou farta que a morte ceife os meus mais…
Aglomero tudo o que me pertence e empilho num dos quartos. Ainda tenho tempo. Reparo que os ponteiros do relógio correm, mas adio o fazer da mala. Ainda tenho tempo. Encaixo os últimos beijos e abraços, desvalorizando em palavras a nostalgia da despedida. Mas quando nos apertamos forte, e em…
Abril 2016, algures entre as nuvens: Refastelada num voo que me devolvia ao Porto, o comandante informa que alguma turbulência nos assustaria o sono. Ansiosa espreito pela janela, na asa do avião, e decoro as caras com quem partilho a fila da ala esquerda. O rapaz a meu lado encontra…
Reza a lenda que o mar de Porto Covo esconde as cartas de um amor proibido. Um amor de um jovem Vizir e de uma Donzela, que nasceu pelo bordado de um lenço, cresceu na audácia e coragem, e foi morto pela cegueira do poder. Almir e Eleonor viram o…
Posso eu deixar esta folha em branco, e ser este o meu luto. Posso eu escrever uma bíblia de palavras sofridas, descrever momentos dolorosos e ser este o meu luto. Posso eu só vestir preto, só amarelo, ou todas as cores ao mesmo tempo, e ser este o meu luto.…
As tripas de chocolate. As conchas de ovos-moles. Os moliceiros. O farol. As casas às riscas. Aveiro é uma cidade peculiar, com canais e barcos que lembram a Veneza dos filmes. Mas, os turistas assíduos que me perdoem… Ninguém conhece o distrito de Aveiro como quem lá vive. E mesmo…
Pontapeio uma pedra da calçada suja e fito o céu cinzento e anilado. Desacelero o passo quando calco a lista branca da passadeira e o meu olhar segue o táxi, veloz e amarelo, que me impede de ver o outro lado da rua. Atravesso o alcatrão da mesma forma como…
Impaciente e atempadamente, recalcava o chão do aeroporto. Esperava, ansiosa, que elas me pintassem a íris e por isso mudei de posto dezenas de vezes. Para que não houvesse chance de elas pensarem que lá não estava. Sozinhas romperam pelo corredor das chegadas, com as malas em punho a rolarem…
Dez da manhã, acelero o passo nos corredores das chegadas do aeroporto. Chove muito lá fora. Ao longe avisto-os. Eles sempre me recebem com um sorriso e abraço apertado, como se os graus familiares que nos separam fossem menos distantes. Apresentam-me as farmácias, bancos e casas de praia famosas que…