Ateei a acendalha e desdobrei a manta felpuda no chão de madeira. Em frente à lareira preparei uma mesa de petiscos, com morangos e nozes descascadas.
Tomavas banho enquanto preparava um café com Baileys. Esta bebida sabe-me a Natal. Quero que a proves e que te faça sentir o mesmo que a mim, quando a magia desta mistura te tocar nos lábios. A água fervia quando surgiste nas minhas costas e me beliscaste o pescoço:
– Vamos lá fora?
A vontade de ir para o frio era nula, mas a tua cara de Dora exploradora não me encorajou a negar-te. Batemos a porta e um mar laranja cobria o terreno em volta do nosso Yurt. Ouvia-se apenas as discussões dos esquilos e a corrente de um rio que passa perto. Tudo era Outono.
Passeávamos pela floresta quando escorregaste no musgo húmido e caíste a rir. Talvez a queda tenha sido um pretexto para voltares a ser criança, ficaste deitada no meio das folhas. Estendi-me a teu lado e decifrámos os desenhos que as nuvens desenhavam pelo céu:
– Guardaria momentos como este num baú, para quando o mundo parecer desabar eu lembrar que uma caminhada com as pessoas certas fazem milagres.
– Não tinhas nada mais piroso para dizer? – Respondi a sorrir, enquanto te beijava a mão fria.
Abraçaste-me. E nunca um abraço me tocou a alma como este. Estou tão perdida. A minha alma não sabe por onde seguir. Corre em todas as direções e desfaz-me em pedaços.
Tu não sabes disto, porque não te digo. Mas sentes que estou quebrada e por isso me apertas desta maneira, como se tentasses encaixar-me de novo.
Ficámos caladas o tempo necessário, a decifrar todos os tons e sons em nosso redor:
– Vamos voltar?
Anuí. Um yurt quentinho aguardava a nossa chegada.
Aquecemos o frango que havia cozinhado, vimos filmes repetidos (porque não apetecia pensar muito), jogámos ao stop, queimámos marshmallows, fumámos um cigarro cubano (porque tenho 50 em casa) e quando não havia mais para entreter ficámos sós. Todo um discurso mudo pairava no ar. Olhávamo-nos num misto de felicidade pura e uma tristeza pesada. A verdade é que a minha vida não era vida sem ti. Imaginar-me sem ti dói. Nunca terei o dinheiro suficiente para te pagar ou conhecerei palavras que cheguem para te agradecer. Um mar de distância não nos separa ou afeta. Nunca poderá afetar, tu e eu.
Abro a boca para quebrar o silêncio mas tu negas-me, abanando a cabeça:
– Shhhhh… eu sei!
Uma lágrima escorre-me a face. Seguras a minha cabeça e encostas no teu ombro. Fechamos os olhos, inspiramos aquele momento e deixamo-nos embalar pela dança das chamas:
– Tem piada, este café sabe a Natal! – Exclamaste admirada, pousando a chávena dourada.
– Sério? Quem diria!
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Adorei! Aliás, adoro os teus posts sempre. Tão puros, tão genuínos.
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