Esta é para ti, que vives dentro de mim. Sem convite, sem pagar renda. Que te alimentas da minha fragilidade, da falta de amor que me tenho e das minhas expectativas que esperam, eternamente, uma boleia que chega à velocidade de uma tartaruga. Quem te convidou? Pertences à noite, criatura…
Esta carta é para ti, mãe. Não para a minha mãe, não para a minha mãe do agora. Também a minha mãe já foi esta mãe, a quem dedico esta escrita. E deixem que vos diga… não sinto saudade de quem a minha mãe e eu nos permitimos ser uma…
Aprendi que as minhas palavras escritas se alimentam da angústia, do vazio e da perda de sabor. Raramente se alimentam do bonito. Dei por mim, no outro dia, a reparar no meu mindinho deformado… Porque o obrigo a ser tripé, quando seguro o telemóvel em mãos. Dei por mim, num…
A cobardia, nos dias de hoje, desilude-me. Já se cresceu, já sabemos mais e melhor. Espera-se. Entendo por cobardia a escolha consciente de fugir da culpa, do admitir que se errou, que se magoou e mesmo que da coragem não advenha o perdão, o recuar no tempo, o voltar ao…
Encostada à estante de madeira escura, à direita de quem entra na Lello, abri o livro “O Principezinho” e li a primeira frase. Foi ali, protegida da turística barafunda que percebi que este texto, que agora vais ler, é primo do mesmo sentimento que assombrou o Antoine de Saint-Exupéry: fomos…
Portland, Maine, I know where that is, because of you. Se não durarmos para sempre quero, preciso até, que saibas que sinto muito mais que amor por ti. Esse mais do que amor que se quer para sempre. Se não durarmos para sempre, não nascerão ódios ou inimizades imprevistas. Sei…
Estás a dormir, são dez e meia da noite. Gostas de já estar a dormir a esta hora. Aos meus pés ou a meu lado, sempre por perto para que me sintas respirar. Vejo-te abanar a cauda enquanto dormes, espero que seja comigo com quem sonhas. Que me reconheças o…
I. Empatia Imagina-te solteira, emocionalmente disponível e a querer conhecer nova gente sem ajudas do acaso. Imagina-te a caminho de um encontro às cegas. Diferente da comum definição.(Este meu desafio imaginário implica que se pense num encontro literalmente às cegas. No escuro e orquestrado por ninguém em comum).Imagina-te a entrar…
O telejornal ainda não havia começado quando nos sentámos à mesa. Alguma coisa não estava bem. Sentia-o e via-o, na cara amarelada e olhos cansados. Achei, achámos, normal. Na verdade havia já alguns poucos dias que ele se queixava da falta de apetite. Mas não queria ir ao médico, nem…
O maior desafio que reencontro no regresso a casa é a minha falta de compreensão/disponibilidade mental para quem, na ponta da língua, traz a opinião não solicitada e o negativismo. Esta realidade não é novidade, mas cinco verões emigrada, ocupada a beber de outra cultura e formas de estar na…