Era uma vez, num mundo não tão distante como os contos que começam com “era uma vez”, que o desejo mais comumente rogado pela humanidade se concretizou. Os humanos, envoltos em nostalgia, perdiam-se de olhos postos no céu ou no chão, na nuca de alguém ou no animal de estimação,…
O corpo onde habito é, hoje, o meu sítio favorito. O templo onde encontro o silêncio e a tela que os outros veem. Hoje não desejo outro. Hoje aceito-o tão e qual como ele é, venerando cada relâmpago lilás nas pernas, as cascas de laranja, as sardas envergonhadas e as…
Já algumas vezes, não tantas como agora, me perdi no labirinto criativo. Não por falta de ideias ou tão pouco por ideias que sobrem. Mas porque a prudência me assombrou. Sem precisar quando, a cautela pelo que o outro pensa, reage e como se manifesta, ganhou poder sobre a minha…
Quarenta e seis anos depois dos tanques, das solas militares e dos cravos nos canos das pistolas, fica o mundo em casa. A guerra faz-se entre paredes, as nossas, ornamentadas a nosso gosto e coloridas com a alma. Mesmo assim, insuportáveis. Uma casa cheia de humanos que escolhemos por amor,…
Se, como por magia, aparecesse no reflexo do espelho do meu quarto em 2010, daria alguns conselhos àquela miúda. Sem que esses mudassem o rumo da década, sem eliminar ou acrescentar vidas. À miúda de vinte anos, que estudava à noite, trabalhava de dia e dançava aos sábados, dir-lhe-ia para…
Este Natal, não me dês Chanel. Nem agora ou nunca. Ou Louboutin, eu não sei andar de sapatos altos. Na verdade, não me ofereças marcas que soem elaboradas, francesas ou italianas. Eu não sou assim. Não me dês jóias brilhantes, não sou de brilhos exagerados ou de mostrar que tenho…
Relógio biológico Disse eu um dia, talvez à minha mãe, que queria estar casada e com dois rebentos aos vinte cinco anos. Ainda nada eu sabia da vida. Passaram-se os vinte cinco, as datas não cumpridas e hoje pondero até nem ter filhos. Entristecem-se os futuros avós, bisavós, tias de…
Há sempre uma, ou várias, músicas que quando soam sem aviso prévio me fazem recuar no tempo. Levito nas melodias nostálgicas e relembro memórias, que pintam o meu percurso. De pés no tablier, com a janela aberta e de olhos postos lá fora, avivo como até aqui cheguei. Escrever ou…
Numa tarde, há onze anos daqui e no armário ambulante do meu avô, estávamos as duas sentadas na tijoleira branca rodeadas de pincéis e bases baratas. Entre as poucas palavras e muitas lágrimas disse-te o que a mim me diziam, e o que não executava. Tinha a tua cara presa…
Há neste, preciso e exato, momento, plástico suficiente para todos os seres humanos no planeta. Não é preciso gerar mais plástico, é só usar o que por aí já anda. Por aí… espalhado pelas praias, a flutuar pelos oceanos, esquecido nos parques, comido por gaivotas. Por aí… alojado nos narizes…