Quando o relógio apontava as dezassete e trinta, cumpria a única obrigação do meu dia. A de ver o pôr-do-sol. Aconchegava-me na toalha, enterrava os pés na areia, abraçava os joelhos e de costas curvadas esperava-o.
Os olhos postos na linha do mar, o pensamento livre, a bola de fogo que desce para beijar a água e o céu que vira rosa algodão-doce. Vejo cães felizes que correm pelo areal, surfistas que ignoram as ondas, casais enamorados que se beijam e famílias que tiram fotografias a contraluz. Este pôr-do-sol é uma espécie de néctar que atrai os beija-flores. Turistas e locais rumam à praia para o saudar. Esta é a hora em que todos fomos um, a hora que todos se reúnem. A hora mais importante do dia. Tão importante que o fiz doze vezes, consecutivas. Impossibilitando eleger o pôr-do-sol predileto.

Na Costa Rica a vida é simples de mais.
A vida é vivida no mar, na floresta, no balanço das árvores e nas pranchas de surf.

A meta era descobrir o país de norte a sul, com o tempo contado e quartos de hotel por agendar. Aventura que exigiu um meio de transporte flexível, e por isso aluguei um carro. Baixinho, pouco promissor mas destemido e teimoso. Talvez tivesse sido mais prudente alugar um Jipe, mas este companheiro foi-me leal durante toda a viagem. Só uma vez me obrigou a mudar de rota, porque lhe faltou rodas para a rua, esburacada e acentuada, que insisti percorrer. Em dezasseis dias ele e eu fomos inseparáveis e mesmo que o tenha coberto de pó e areia ele sempre me deu boa música. A boa música dos anos oitenta, que a rádio tocava e me fazia cantar com todo o ar dos pulmões.

Saída da capital, San José, guiada pelo mapa de papel e com o Google maps em punho rasurei os lugares, por mim, nomeados. Em sete dias trilhei o, majestoso e denso, Vulcão Arenal, o Rio Celeste e Tamarindo.
O Rio Celeste é uma cascata divinamente azul. As partículas celestiais brilham pela montanha. É de cortar a respiração, literalmente. As escadas que nos levam a ela ajudam a descer, mas não há santo que ajude a subir. No entanto, aquando avistado este espetáculo natural fui envolvida pelo deslumbre.
É a cascata mais bonita que os meus olhos guardam.Em Tamarindo, fui presença assídua no Patagónia e no Ovelha Negra. Desbravei praias, saltei de penhascos, apaixonei-me pela Ambar gelada, fugi do sol, surfei, ouvi acústicos e abracei uma Aveirense. O mundo é do tamanho de uma ervilha. E um português, que a vista não desconhece, que se encontre inesperadamente… são amigos de uma vida inteira! Talvez seja esta a sina portuguesa: ser navegador de mares e descobridor dos irmãos da pátria que viajam o mundo.

Com a pele queimada e o repelente no bolso de emergência, rumei a Santa Teresa. E se há cidade que me fez imaginar uma vida, foi esta. Procuraria trabalho na The Bakery, adotava um cão de rua, morava de favor, nadava nua em noites de lua cheia, perdia-me a contar as estrelas, ria com os búzios que correm desajeitados quando ninguém os vê e era feliz para sempre. Fácil, não era?
Sacudi o devaneio, saltei para o ferry e fui conhecer Jacó.
Esta peculiar paragem é lembrada, também, por motivos menos felizes. Há droga nas ruas e prostituição, mal, disfarçada. No entanto, os locais são humildes e muito simpáticos. Não me senti insegura ou incomodada, mas aqui há verdade no que descrevo. Voltaria a Jacó, pelas desertas praias de areia escura mas não arriscaria uma saída à noite, sozinha.
Em Jacó os pelicanos voam de asas dadas, os papagaios vermelhos palram pelos céus e os cocos suspensos combatem a lei da gravidade. (Alerto para o perigo de adormecer a contemplar os cocos pendurados nas árvores. Segundo o Dr. Google, a queda de cocos mata mais que tubarão. E eu acredito.)

 

Em tom de despedida visitei o Parque Nacional Manuel António. Entre caminhos e trilhas radiei com as preguiças, macacos, veados, iguanas, borboletas e aranhas. E assim é que os animais deviam ser contemplados, à distância e livres da, possessiva, curiosidade humana. Ouve-se a música dos pássaros, os uivos dos macacos e o barulho das ondas do mar. Sons tão crus que ensurdecem. Tivesse eu a sorte de ensurdecer com a Natureza e não com o barulho de motores.

Costa Rica é o mais próximo que estive do paraíso. O pôr-do-sol é rei, as estrelas incontáveis, os cães os mais felizes e as praias têm vida. Não há estrelas-do-mar mortas ou búzios ocos. Dezenas de horas andei de cócaras à beira-mar, fascinada pela fauna marinha e a chatear os caranguejos turquesa que desejavam beliscar-me.
A água convida ao mergulho, a areia escaldante faz correr sofridamente e o ar quente obriga a sombra de uma palmeira. Durante todo o dia, com fator de proteção 70 a camuflar a pele.

Não se ouve discussões ou más falas. As ondas do mar são música de fundo para umas férias relaxadas. Senti-me parte e em paz. Não sei se pelas longas tranças, a pele queimada ou o conforto em pisar o areal e a floresta.
Não há fotografias ou palavras que lhe façam justiça.

A Costa Rica é paz, liberdade e luz. É pura vida!

Costa Rica, fica com ele. O meu coração é teu.

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