Quando viajo de autocarro tento ficar à janela. Sento-me, aconchego-me e quando o motor arranca, a minha mente dispara. No caminho, as diferentes paisagens surgem velozmente e o meu pensamento perde-se nas diferentes cores, texturas e sons.

Fico ali, a olhar, a divagar e a transportar-me.

Imagino-me a correr pela floresta densa, por entre as árvores, livre e feliz. Vejo-me naquele barco a remos, que flutua no rio, e naquela bicicleta que desce a ponte de madeira, com o cesto carregado de fruta e flores. Sou a mulher que passeia o cão na calçada, a rapariga sentada na vitrina do café, a que fala ao telefone, a que cheira o pão quente, a que é abraçada pelo marido e a que beija, sorridentemente, o namorado. Sou a mulher que ajeita a aliança na fila do quiosque, a que empurra o carrinho do bebé, a que lê a caminhar e a que recria as batidas musicais no vidro da paragem do autocarro. Sou a que conduz o carro que me ultrapassa, a que espera na passadeira, a que cumprimenta com um aceno e a que limpa as lágrimas desobedientes.

Sou tudo isto quando viajo de autocarro. E quando todos chegamos ao destino, respiro fundo, esboço um sorriso, desço o degrau e volto a ser, só, eu pisar a estrada.

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