Estás aí?
Tem dias que gostava, que queria mesmo, que desejo mesmo, segurar a tua cara nas minhas mãos. Ter a tua cara entre as palmas das mãos, perguntar se estás aí. Aí dentro.
“Ainda estás aí?”
Tem dias que tenho medo. Muitos dias que tenho medo. Principalmente quando estou no metro, apertada e enlatada como as sardinhas. Pensar que a qualquer momento posso ouvir um estrondo de uma bomba, de um acidente, de um tiro. E que eu morro, ali mesmo. Sozinha, sem que ninguém saiba quem eu sou ou a quem pertenço.
Há dias que tenho pavor, tanto pavor que nem sei respirar. Dias como quando viajo pelos céus e me convenço, com todas as certezas do mundo, que o avião vai cair e vou morrer ali mesmo. Que vou parar ao fundo do mar, em queda livre, sem pára-quedas ou barcos insufláveis. Que o avião vai cair e que ficarei ali, colada aquele assento, que nem sequer escolhi. Pousada no fundo do mar, sem que caixas negras sejam procuradas ou encontradas.
Sei lá eu como me acalmo nessas alturas!
Às vezes adormeço. Outras vezes tento que, miraculosamente, a internet comece a funcionar e eu consiga enviar mensagens de despedida, a quem eu tenho a certeza que separaria oceanos até me encontrar. Presa com um cinto, a um assento, no fundo do mar.
Tenho medo da morte.
E nunca pensei na morte antes, mesmo que tenha perdido gente, tanta gente…
Tento, sem ajuda psicológica ou psiquiátrica, não ter medo da morte. Saber lidar com a morte, abraçar a sua naturalidade mesmo que não a queira perto. Mesmo que a abolisse, que a decapitasse… se me deixassem.
E é aqui que te queria entre as palmas das mãos. É aqui que te queria abanar, porque sei que nesse corpo te escondes. Que nesse corpo ainda moras tu. E eu continuo aqui, do outro lado da minha íris. Bem no fundindo da minha alma.
Tem outros dias que fico a olhar para as gotas da chuva que correm pela janela. Imagino-as numa corrida, torço sempre pela que vai atrás. Nesses dias, principalmente nesses dias, olho para os meus animais e tenho a certeza que eles me entendem. Que falamos exactamente a mesma língua, que eles me conhecem melhor que gente que articula letras. Também nesses dias, me perco nos tons do céu, procuro a lua e a linha do horizonte.
E mesmo nesses dias, gostava de te prender nas palmas das minhas mãos e gritar por ti. Não quero os teus olhos, o teu corpo, a tua saudade, amor ou tempo perdido. Quero só que estejas aí. Que não tenhas morrido, ou te transformado em outra pessoa qualquer que não tu.
Porque quando eu perco a lucidez, quando tenho medo e quando me perco em coisas simples, gostava de sentir que ainda estás aí.
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