Portland, Maine,
I know where that is, because of you.
Se não durarmos para sempre quero, preciso até, que saibas que sinto muito mais que amor por ti. Esse mais do que amor que se quer para sempre.
Se não durarmos para sempre, não nascerão ódios ou inimizades imprevistas. Sei de que matéria somos feitas e não há nada que possas fazer, ou eu, para que floresça a mesquinhez. Algo que não seja bonito, ou azul. Haverá eterna gratidão pela pessoa que fizeste renascer em mim, pela realização de que há espaço e confiança para crescer juntas, separadas, momentaneamente ou para sempre.
Se não durarmos para sempre, sabe que o meu sítio favorito é no lar imaginário, e tão palpável, que construímos e que encontro no fundo dos teus olhos. (Sorrio ao perceber que quando me olhas ainda me lês a alma). Quando nos olhamos como quem cuida ele aparece, o meu lugar favorito. Gostava que o nosso para sempre durasse para sempre, acredito até que seja essa a nossa sina. Mas tomar-nos por garantidas é desvalorizar a imprevisibilidade da vida. Os tremores de terra, que abalam tantas casas cimentadas em amor, acontecem, nós não somos especiais. E por nos sabermos feitas de betão e acreditando que dificilmente os nossos pilares nos caiam, gosto de sentir que continuaremos a cultivar esta felicidade que me acalma quando penso em ti, em nós, na nossa família e ambições. Não achava possível, até te encontrar, que um amor destes me estivesse na sina. Que fosse possível, quando cheguei ao fim da linha, andar para trás (como quem rebobina uma cassete), com malas repletas de trauma e dor em punho, e dar por mim a querer arriscar outra vez. Querer amar outra vez, mesmo com medo de me perder no caminho. Mas tu andas a meu lado, a nossa passada é ritmada, e quando o cansaço me deixa a arfar agarrada aos joelhos tu esperas ou puxas. As fórmulas mágicas que permitem que o caminho seja feito são várias e tu sabê-las todas, empregas a que mais se adequa ao momento e à alma. Eu faço o mesmo, tento. Sou defeituosa e impaciente, falo alto e na hora, porque deixar para depois é alimentar o ressentimento. Sou assim, sou todas as mulheres que me antecederam e sou as que virão também. Mas o que sou não traduz falta de amor.
Os meus momentos mais felizes são contigo, às vezes só me apercebo disso à distância (como quem vê um quadro de perto e não compreende a arte no seu todo). Das viagens, aos concertos, aos jantares em restaurantes requintados ou sentadas no chão da sala com o sofá a servir de encosto. A arte bonita que criamos e a simbiose inexplicável que nos une são tão bonitas. Entendes o meu silêncio, o que escolho não partilhar, a forma como olho e vejo o mundo e os outros, o meu riso e sorriso. Respeitas todo o meu espaço e permites que tenha tempo para pensar. (Dado como garantido até perceber que há tanta gente que não me deixa pensar, porque calar o egocentrismo vomitado em todos os momentos de silêncio é assustador). Conheces-me melhor que eu, atrevo-me. Navegas comigo e atentas ao que espreita. Casar contigo é liberdade em casa, é aprendizagem no choro, é ir com vontade de ficar, é alimentar o meu eu, o meu eu contigo, o teu eu e tudo o que é nosso. É um jogo eterno, um querer partilhar tudo sem esconder nada. Quanto mais viajo o mundo, quanto mais conheço as pessoas que nele habitam, mais certezas tenho… É o nosso lugar, o meu favorito.
Perco-me nos teus fios dourados, no verde da tua íris, outrora pensada azul, e na imensidão da tua bondade.
Mergulho-me na nossa história.
A minha casa mora em ti, em nós.
Que sorte, Danada a nossa.
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fotografia de capa autoria de Make my day
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