A Aurora partia na madrugada daquela última noite de Agosto. Todo o Verão passámos juntas, a pedalar, rir, dançar e a colecionar ressacas. Quisemos despedir-nos com alegria e forrobodó e por isso rumámos à festa da cidade, nós e o 1.5L de TrinaVodka.
No meio da praça, trauteámos as letras populares, bailámos o pimba, e partilhámos aquela litrosa e meia, de má vida. Pela noite abafada despedimo-nos em todas as línguas, chorámos abraçadas e beijámo-nos dezenas de vezes. Nenhuma de nós queria mais um ano de distância. Mas quando as pernas reclamaram do peso morto e da falta de equilíbrio, dissemos adeus.
Com dificuldade abri a porta de casa e, em modo walking dead, cheguei ao quarto. Tombei na cama, mal despida e zonza. Indisposta, levantei-me e por motivos ainda a apurar dirigi-me à cave. Abri a porta, virei o barco, fechei a porta e fui dormir. Completamente aliviada.
Nos meus sonhos, ébrios, um miar apreensivo ecoava… Cada vez mais real até me acordar. O relógio indicava 6h15 da manhã, cuidadosamente virei a cabeça e fechei os olhos. Um miar bebé e aflito entrou pelo quarto e gritei “Meeko!”. Num correr desajeitado saí do quarto, abri a porta da cave e incrédula observei o cenário. Numa grande poça de coisas e afins estava o Meeko, o gatinho de 6meses, completamente encharcado e malcheiroso. Os grandes olhos azuis turquesa davam-me um bom-dia aliviado e feliz. Olhei para ele com agonia e culpa. Fechei a porta e pensei em soluções.
Preparei um kit limpeza, lavei o Meeko e esfreguei o chão. O felino sentado a meu lado observava o pano que eu levemente movia, tentando apanhá-lo com as pequenas patitas. Tudo corria bem até que a inspetora acordou:
– Quem é que anda aí?
– Sou eu mommy! – Respondi apressadamente e em pânico.
– O que é que se passa? Que barulho é esse? – Perguntou a minha mãe desconfiada.
– Hum… Nada. Não te preocupes. – Neguei calmamente.
Rapidamente a minha mãe desceu as escadas, dirigiu-se à cena do crime e fitou-me boquiaberta, enquanto o Meeko ronronava nas suas pernas. Sem perder a calma expliquei:
– Não te quis incomodar porque vais trabalhar cedo, mas acordei com o gatinho a miar aflito. Não sei o que lhe deram para comer mas ele vomitou isto tudo! Coitadinho…
A minha mãe ouviu-me e analisou o panorama:
– Como é que um animal tão pequeno vomita tanto? Eu sabia que ele andava a comer demais! A partir de agora come só uma vez ao dia. Vai-te deitar que eu acabo aqui, obrigada! – Retorquiu enquanto desviava os armários para limpar.
Comprometida virei costas e arrastei-me para a cama, enquanto o felino expressava um ar tranquilo e inocente. Senti-me culpada e vitoriosa, como foi possível ter-me safado tão bem?
O Meeko não achou grande piada, mas tornei-me na sua melhor amiga quando desviava uns biscoitos extras a meio da noite. Não foi por isso que ele passou fome, aliás foi dos gatos mais obesos que alguma vez vi.
A minha mãe nunca soube da verdade, até ao lançamento deste texto. Até hoje. Talvez o tenha feito porque todo um oceano nos separa. Desculpa!
3 Comments
como estas deve haver muitas :D…..
So tu Michelle ……como mais ninguém….
So tu Michelle ……como mais ninguém….