Uma tarde solarenga, as andorinhas a cantar, tu na banca de mármore a cozinhar e eu, em plano de fundo, a planear o próximo disparate. Não me lembro do que fiz ou disse, talvez tivesse sido desobediente ou desafiadora. Certamente não se tratou de um comportamento divino ou exemplar.
Pousaste o que nas mãos tinhas, viraste-te e dirigiste-te a mim furibunda. Não eras uma mulher pequena e por isso corri pela minha vida, a rir de nervosismo. Fugi até ao aido onde centenas de batatas caseiras se banhavam ao sol. Corremos em círculos, ora para um lado ou para o outro. Vezes sem conta a entreter as batatas. Até que paraste, tu de um lado e eu do outro. Frente a frente, separadas por aquele mar amarelo. Olhaste para mim e para elas. Calculaste a distância a olho e disparaste uma batata. Mais uma e tantas outras. Eu desviava-me como podia, a roncar de rir, até que me acertaste em cheio. Aguentei a dor e decidi retaliar. Fitei-te, engoli em seco e peguei numa batata. Enquanto ganhava coragem ouvi:
– “Não te atrevas!”. – Eu pensei, só uma… estão mesmo aqui! Defende-te! E atirei…
Começou aí uma guerra incrível, tu séria e eu a desmanchar-me de riso. (Obviamente que apontei para as tuas pernas porque não tencionava morrer tão nova).
Não me recordo do final desta memória sei, no entanto, que não acabei desmaiada no aido. As marcas e dores desse dia valeram tanto a pena! Não andei à batatada com outro alguém sem seres tu. Talvez um dia, a reviver-te, implemente o dia da guerra das batatas aos meus netos.
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