“Mi vida! Mi amor!” Aterrámos em Havana.

Pelas janelas descidas e com as cabeças ao vento, deslumbrámos na viagem de táxi. O Hostel que nos acolheu era colorido e arejado, mas foram as piña coladas e os mojitos a 2.5 CUC (2€) que nos cativaram. Bebemos quatro.

Abrimos caminho até ao centro, inseridas num quadro parado no tempo. Regateámos uma viagem nos típicos táxis cubanos e apesar do táxi azul elétrico ter agradado à vista, foi o rosa-velho que aceitou o nosso regateio.

Apresentámo-nos a Havana. Localizámos as embaixadas, o Malecón, a fortaleza e as paragens fotográficas obrigatórias. Ouvimos música, piropos e latidos. Há dezenas de cães bem-dispostos nas ruas, à espera de brincadeira e de cócegas na barriga. Em troca oferecem lambidelas de amor e companhia até se distraírem.

Jantámos, estranhámos a banana frita, que ocupava metade do prato, e fomos à busca do tesouro escondido: o Wifi. Quando avistámos um aglomerado de caras iluminadas por pequenos ecrãs, soubemos que estávamos no sítio certo. A multidão impedia a rapidez do serviço, no entanto foi suficiente para informar que de boa saúde estávamos.

A Van e eu irradiávamos felicidade, abraçávamo-nos espontaneamente, como se não acreditássemos que juntas ali estávamos.

Nas manhãs seguintes, subimos ao autocarro que nos conduzia às praias de Havana, a 40 min. Descobrimos o rum, os charutos e fizemos a festa, sozinhas ou com os novos amigos da vida. Num desses dias conhecemos a Migdaliz, ou a amiga da Alice, que nos ofereceu refrescos e papaia. Conhecemos também o Eduardo, o poeta, que nos conquistou com a sua generosidade, alegria e descontração. Juntos citámos excertos do “Principezinho” e sem que desse conta, ele abriu o seu mini bloco e dedicou-me palavras que me aqueceram a alma:

“Para Alice,
En unos de los momentos mas afortunados de mi dia, cuando pense que todo estava perdido alli estava, muy atenta de todo lo que pasaba a su alrededor. Decidi conocer a lá flor mas bella, inovadora, y interessante que nunca se olvido de el principito. Alice es alegre, es vida”

Cuba é turismo e por isso o Eduardo aconselhou a chamarmos a polícia se alguém invadisse o nosso espaço ou nos tocasse. Com ele aprendi também que o povo cubano é pacífico, ensinado a aceitar a realidade que os envolve: um regime político comunista onde estás a favor do Estado e da pátria, ou contra. As primeiras letras que a avó do Eduardo aprendeu na escola, em 1959, foram o F,I,D,E,L. A Internet é um luxo, o salário é uma miséria, a água corre com pouca pressão, as ruas empilham lixo, buracos e cheiros nauseabundos. Mas é esta a vida que têm. 

 

Apesar das caminhadas tardias, nunca nos sentimos inseguras. Os elogios demasiado específicos incomodaram, mas nada que umas asneiradas em português não nos fizessem rir. Recordo a última noite, quando rabugentas de sono voltávamos para o Hostel. Um grupo de miúdos, estarrecidos, riam e balbuciavam algo na nossa direção. Um deles aproximou-se. Sem paciência, lancei-lhe um olhar matador:

– Diz me lá… O que é que tens para dizer hoje?!

– You sexy freak! – Deixou escapar por entre os dentes e envergonhado.

Foi inevitável não lançarmos uma gargalhada. Todos rimos sem parar, e assim nos despedimos desta capital.
Um pouco de mim ficou em Havana, como fica sempre em todos os lugares que me dão cor, ritmo, paz e sorrisos.

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3 Comments

  1. Adorei! Texto muito sentido e genuíno. Keep the good work girl. Beijinhos.

  2. Endrina Beatriz Oliveira Ferrer

    América Latina sem um “Hola mi vida ” Hola mi cielo” seria de estranhar =P que lindas fotos e texto!

  3. Shailla

    Love reading your stories …. ❤️ So awesome