A Aurora e eu celebrávamos dez anos de amizade, havia então motivo ou desculpa para sair (fui eu a idiota, porque ela não se lembrou).

Abri-lhe a porta do meu ninho de loucura. Ela estava abatida e stressada:

– Preciso da tua energia hoje, pode ser?

– Isso e uma garrafa de vinho? – Sorri e abracei-a.

Rumámos a Nova Iorque e jantámos no Dos Caminos, um restaurante mexicano. A Aurora adora margaritas e tacos, não havia como falhar. O sorriso apareceu e continuámos as celebrações num bar com vista sobre a cidade que nunca dorme, só pestaneja. Dançámos, bebemos e todos juntos (o álcool e nós) decidimos elevar a fasquia, seguimos para a 1 Oak. Uma das mais prestigiadas discotecas em Nova Iorque, famosa por acolher celebridades.

À entrada da discoteca um indivíduo, que pairava no meio da rua, despertou-me os sentidos. Usava um chapéu vermelho, vestia roupas informais e falava ao telemóvel. Fixei-me nele porque se assemelhava, inquestionavelmente, ao ator Leonardo DiCaprio.
Desinibida, aproximei-me:

– Olá! Tu és igual ao Leonardo DiCaprio! – Sempre fui boa a constatar o óbvio.

Silêncio….Aquele Homem nem à minha presença reagiu. Não me respondeu ou me olhou. Dei um passo em frente e a centímetros da orelha dele repeti o elogio. A meu ver um elogio… Nada! A não reação dele sugeriu que estava habituado a abordagens semelhantes:

– Aurora, ele deve ser mudo! – afirmei rabugenta e em português.

Subitamente, um segurança colocou-me a mão ombro e encaminhou-me para longe daquele Zé Manel. Zé Manel, que é como quem diz Leonardo DiCaprio. Sim, era ele. Quando nos distanciámos e analisei o cenário, com alguma sobriedade, percebi que fui completamente evasiva, inconveniente e ignorada pelo Leonardo DiCaprio. Leo….Di….Caprio.

Talvez aquela atitude arrogante tivesse merecido:

– Jack, tu não és a última bolacha do pacote… Aquele pedaço de madeira dava perfeitamente para os dois. Go Kate! – Enquanto estalava os dedos pelo ar. Mas isso não importa agora.

Pouco depois, um grupo de modelos fez-lhe companhia e entraram na discoteca. Nós também, até hoje não percebo como. Fomos barradas por ser já muito tarde e não constarmos na lista dos promotores. Preparávamo-nos para dar a noite como terminada quando uma rapariga surge no nosso meio:

– Quanto preciso pagar para entrar?

– 1500$, tens de comprar uma mesa – respondeu o segurança.

– Paga-te daqui – ordenou com o braço esticado e a mão a segurar um cartão.

– Mesa para quantas pessoas?

– Três. Eu e estas duas meninas bonitas – fitou-nos a sorrir.

Olhei incrédula para a Aurora.
De onde veio esta miúda? Como assim $1500? O que se passou aqui? Ahn?!

Pouco importou… Assim que atravessámos a porta da má vida, éramos todas amigas de infância. Bebemos, cantámos e dançámos a noite toda enquanto o Leo se divertia na zona Vip. A vida corre bem.

Cinco da matina, voltámos de Uber para casa. A Bela Adormecida roncava, de boca aberta, no banco de trás enquanto eu e o condutor cantávamos músicas de chuveiro, em plenos pulmões.

Vários minutos após contemplar o teto e a descrever o clímax da nossa noite, dez vezes, adormecemos as três. A Aurora, a Alice e eu.

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