(spoiler alert: este é um mini roteiro, esta viagem serviu o propósito de despedida de solteira)
Pela janela do passageiro vejo a sombra da Sofia, que aprecia a vista pelo tejadilho. A Sofia, a noiva que trouxemos à Madeira para se despedir da vida de solteira. (spoiler alert 2, foi quem mais se divertiu. Missão cumprida!).
Adormecidos, no meu inconsciente, estavam os rumores sobre a aterrar no Funchal. Avivados quando, ao chegar à ilha, o avião parecia feito de papel de tanto abanar. Os ventos cruzados e a pista XS dão o nono lugar, na lista de aeroportos mais perigosos do mundo, ao Funchal. No entanto, quando aterradas sãs e salvas, o ar quente vindo do mar e as casas amontadas pela encosta dão-nos as boas vindas à eterna pérola do Atlântico. No aeroporto, após apresentar o teste negativo à Covid, somos recebidas com simpatia e brindadas com a banana da madeira, pequenina e docinha. À saída vemos também o famoso busto de bronze do CR7, agora de máscara para dar o exemplo. A Ana e o seu pai, madeirenses amigos do continente, foram de uma amabilidade extrema ao nos emprestarem o seu carro. (Se procuravam aqui dicas para aluguer de carro, também não consigo ajudar). Aconchegámos o estômago com o brunch da Prima Caju e seguimos para a Calheta. Onde alugámos, pelo Airbnb, uma casa digna de uma despedida de solteira: remota, com piscina infinita, pátio ao ar livre e bastante privacidade. Pelo caminho efetuámos uma pequena paragem no Amanhecer, para abastecer e rechear a casa. Uma vez que nós quarto nos conhecemos há já quinze anos, a dinâmica de grupo é fácil e ágil. Adaptamos a alimentação e concordamos nas escolhas alcoólicas. O objetivo é divertir, conhecer e poupar nas refeições, ao comer em casa a maioria das vezes. Preparei uns cocktails, ligámos a coluna de som e atirámo-nos para a piscina de água salgada. Jantámos, mergulhámos, contemplámos o céu estrelado e fomos dormir. No dia seguinte continuava a aventura!
Acordámos cedo e em jejum fomos visitar a cascata dos anjos, a dez minutos de distância. A queda de água que humedece e divide uma estrada, pouco movimentada às oito da manhã. Acordar a alma com um banho de cascata é uma dádiva! Voltámos a casa, tomamos o pequeno-almoço e seguimos para a levada do caldeirão verde. O parque tem estacionamento, custo de 3€ o dia todo, e casas de banho ambulantes (0,50€ a entrada). Não esperávamos que a caminhada até ao caldeirão verde fosse tão longa, mas uma vez que a começámos quisemos terminá-la. As paisagens são dignas de um documentário da Discovery Channel! Os túneis estreitos, baixos e escuros que atravessamos são desafiantes mas a caminhada, o convívio e o ar puro da montanha quase faz esquecer os milhares de passos dados, e por dar. Com larica nos fomos e demos um saltinho a Santana, onde as típicas casas madeirenses surgem no meio citadino.
Seguimos caminho para o famoso restaurante A Pipa, em Porto da Cruz. Famintas pedimos lapas, bolo de caco, picado, atum e milho frito. Empurrámos com a típica poncha. Acho que tenho o dever cívico de vos aconselhar… cuidado com a poncha! É daqueles diabinhos que inocentemente escorrega e não se sente enquanto sentada. De pé, a história é outra! O riso é garantido, a poncha da Madeira é única e irreplicável. Combalidas nos sentamos no sofá e adormecemos as quatro ali mesmo.
Às 5:30 tocava o despertador, estava na hora de ir ver o sol nascer ao pico do Arieiro. Fomos cedo, mas não as primeiras. Quando chegámos o sol despertava lentamente, por cima de um mar de nuvens. É de cortar a respiração. Acordem cedo, preparem um termo com café quente e levem uma mantinha. Quando o despertador tocar, e a vontade de ficar na cama levar a melhor, lembrem-se do momento único que vos aguarda.
Do Arieiro descemos até o curral das freiras. Esconderijo eleito pelas freiras quando, no antigamente, os homens vinham do mar e lhes faziam mal. (Dito-nos por um local). Eram nove da manhã, mas cinco da tarde em algum lugar do mundo, e por isso não resistimos aos vários licores que o senhor do café nos ofereceu. Um licor com uma empada de castanha… dá a energia necessária para se começar o dia! Mas de desvendar a primeira surpresa da noiva, páramos no miradouro cabo Girão, o sétimo cabo mais alto da Europa. Impróprio para quem sofre de vertigens, uma vez que a estrutura do miradouro é de transparente. Chegara então a hora de surpreender a noiva com um passeio de parapente. Rumámos então à Madalena do Mar, onde aguardaríamos pela sua aterragem. As condições do vento permitiram que ela desfrutasse de paisagens maravilhosas. Certamente, que guarda na memória imagens únicas da Madeira.
A tarde foi passada em Fajãs dos padres, um pequeno tesouro orgânico e rural na ilha da Madeira. O acesso é unicamente por teleférico, com o custo de 10€ por pessoa. O último teleférico opera às 19h, pelo que se não estiveres hospedado no hotel da quinta, deverás atentar ao relógio. O que é difícil, a água cristalina e o calor abrasador faz querer ficar até ao sol se pôr. O caminho até encontrar o mar é lindo, repleto de bananeiras e outras plantações. A apanha da fruta e vegetais é proibida, e não te assustes com as centenas de lagartixas (verdes e azuis) que correm ao teu lado. A areia em fajãs dos Padres é, como em quase toda a ilha, de origem vulcânica. Sendo a areia branca inexistente e substituída por grandes calhaus escuros. Há a possibilidade de arrendar espreguiçadeiras, deverás ir cedo, ou aventura-te pelas pedras. Uma vez encontrada a posição ideal, não vais querer outra coisa!
Para terminar o dia em beleza, brindámos no Pukiki! O bar de inspiração havaiana mais cool da ilha. Neste bar o álcool favorito é o rum, os cocktails deliciosos são caseiros, preparados com carinho e detalhe. A Marta, que se veste a rigor e não é de guardar sorrisos, é exemplo de um excelente atendimento e boa disposição. Voltaremos e recomendamos este bar a quem quiser entrar no mundo havaiano e saborear um excelente cocktail.
Na manhã seguinte, só uma de nós sabia para onde íamos. A Vanessa foi de uma generosidade ímpar e preparou uma surpresa a todas as noivas. Apesar de ser a Sofia quem se despede primeiro, neste grupo de quatro existem três noivas e uma mulher casada. O GPS indica Ponta de São Lourenço como destino final, que nos brindou com uma manhã de sol. Percorremos as ruas vazias e encontramos a marina. A manhã foi passada em alto-mar, num barco espaçoso e só para nós. O Pedro e a Sara, equipa da Rota dos Cetáceos, foram os capitães perfeitos! Mergulhámos nas reservas naturais, cantámos, bebemos e dançámos. Quatro horas de boa disposição e festa. E consequentemente, a vontade de ir embora era nula. Com fome comemos num restaurante local, as famosas espetadas de carne e de atum. Regressámos a casa para descansar e preparar para o último jantar na ilha. O barco, que não matou mas moeu, deixou-nos embaladas para um jantar repleto de boa comida e bebida. Escolhemos o Maktub bar, em Paúl do Mar, conhecido pelo pôr-do-sol inesquecível, vibe tranquila, cocktails deliciosos e boa comida. Por lá ficámos até o cansaço levar a melhor.
De volta ao aeroporto, ficou a promessa de retomar à Madeira para a conhecer com mais afinco e atravessar todos os seus túneis. Voltar para usufruir ainda mais em liberdade, num mundo sem Covid e quem sabe aprender o sotaque madeirense, que apesar do esforço sabemos que ficámos aquém. Não necessitámos de teste negativo para voltar ao continente. A descolagem foi bem mais pacífica do que a aterragem. Levamos na memória esta viagem e no corpo o cansaço das poucas horas de sono dormidas.
Links sugestivos:
https://abnb.me/94FlagF7iib – alojamento
https://www.transavia.com – voos
http://www.madeirawings.com/ – parapente
https://www.rota-dos-cetaceos.pt/index.php/pt/ – atividade marítima
https://instagram.com/maktub_pauldomar?utm_medium=copy
Custo total estimado por pessoa: 500€ inclui alojamento, viagem pela Transavia, combustível, alimentação e atividades.
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