Bienvenidos a Miami!

Este foi escrito em South Beach em Miami, sentada num muro bege de pedra que separa a areia do alcatrão. Estou sozinha e não ouço a minha voz há mais de 1 hora. De caneta e bloco de notas em punho, mas completamente vidrada numa partida de volleyball que enche o meu campo de visão. Uma dúzia de redes montadas, vários jogadores que se divertem, assistem ou aquecem. Outros vários cães relaxam à sombra e, assim como eu, seguem a bola com o olhar. Menos um, que me veio fazer companhia enquanto roía uma garrafa de plástico. Nas minhas costas dezenas de pessoas passeiam, correm, pedalam, andam de patins ou skate. O sol não está muito quente e uma brisa fresca faz abanar as folhas das grandes palmeiras. Estou num dos meus paraísos, esta podia ser a minha vida. Se aqui vivesse, estaria dentro daquele campo com um parceiro de equipa e de vida. Enquanto o nosso cão se metia com estranhos.

Miami acolhe-me pela segunda vez. Foi aqui onde entrei num club de strip pela primeira vez, para não mais esquecer o cheiro a baunilha que me entranhou no cabelo. Nunca compreendi o propósito de um club de strip, até vir a Miami. Mas avancemos. Desta vez a missão foi outra: o Halloween!

Os 9 aterraram em Miami e chovia torrencialmente, ideal para nos embalar num sono imprescindível. Mini-férias como estas requerem mais férias, como pós-férias. Acordámos, agrupámos a malta e na mini caravana que arrendámos, rumámos à marina. Alugámos um barco, um capitão e uma ajudante (uma cadela, de nome princesa, que vinha incluída no pacote). Passámos o dia no mar a beber, dançar, nadar e rir. Fiz vários salvamentos nesse dia: 5 chapéus que voaram borda fora, uma mota de água que quase encalhou nas pedras e um cisne insuflável que se desprendeu do barco. Parti duas unhas, dei uma cabeçada, o Jerry caiu-me em cima e bati contra uma viga de ferro. Mas não morri. Horas depois, e porque a idade já pesa, estávamos exaustos.

Subi à proa, sentei-me no nariz do barco e com as pernas a balançar pelo ar assisti ao pôr-do-sol. O céu rosa e lilás parecia algodão doce, que paisagem incrível. Perdida em pensamentos dei graças por viver aquele momento. Por estar ali com o grupo que escolhi, e me escolheu, sem que precisássemos de estar noutro espaço ou rodeados por mais alguéns para estarmos felizes. Desembarcámos e fomos dormir. Eram apenas 20h, mas só acordámos na manhã segunda-feira.

Depois de um pequeno-almoço caseiro, que o Jerry e o Wenny prepararam, fomos explorar Wynwood, a cidade da arte urbana. Centenas de pinturas dão cor a esta cidade, onde as ruas contam histórias com frases e desenhos espalhados pelo chão, paredes e janelas. Wynwood é alternativo, artístico, envolvente e divertido. Fez-me sorrir, gosto de arte e de ver como cada um reage e partilha o que na alma os apoquenta.

Voltámos a casa todos juntos, como sempre.

Infelizmente, fiquei doente. E apesar de me ter disfarçado de máquina de rebuçados, não sai de casa. Eles foram dançar, eu fui dormir. Na noite seguinte não houve impedimentos, era noite de Halloween.
O Halloween sempre me suscitou curiosidade, mística e vontade de comemorar. Em Portugal não se celebra como nos USA, mas a Alicia e eu nunca falhámos na recolha nocturna de rebuçados. A minha mãe esculpia uma abóbora, iluminava-a com uma vela e posicionava-a em frente a casa. Mesmo sabendo que abóbora desapareceria na manhã seguinte.

Aqui é diferente, as fantasias são pensadas ao pormenor e com antecedência. As decorações assustadoras surgem após o fim do verão, arruma-se as toalhas de praia e exibem-se as vassouras. Também eu segui o rebanho e fiz o mesmo. Desde sempre desejei recriar um casal da Disney. (Cada um com a sua pancada). Quis o destino que nenhum dos meus namorados achasse essa ideia engraçada e por isso nunca aconteceu. Mas aprendi que a nossa felicidade não depende da vontade dos outros, fui à Amazon e comprei uma fantasia da Disney. A eleita foi a Jasmine, do Aladino, mas sem Aladino. Teria sido este o meu plano se não me tivesse caído um Aladino do céu. Um amigo de longa data, quinze anos para ser exacta, que estudou comigo em Portugal e estava, em trabalho, em Miami. Conversa puxa conversa e também ele foi à Amazon e comprou um Aladino.

Sem planos ou expectativas. Foi mágico! Se alguma vez pensámos que estaríamos em Miami a celebrar o Halloween… Este amigo é a minha versão em masculino, se tivesse uma. O Mafra pertence ao mundo e é bem mais fácil dividir sentimentos e preocupações com alguém que não só entende mas sente o mesmo que eu. Na verdade, o Mafra sabe o que é ter saudade, como a combater e conviver com ela. Aconselhou-me e desafiou-me, enquanto voávamos pelo mundo num tapete mágico imaginário.

Miami é o estado do sol. É praia, palmeiras, troncos nus, cães, avenidas de restaurantes e bares. É diversão, maluquice e tudo aquilo que se vê na televisão. O espanhol ouve-se mais que o Inglês, pela influência Cubana que a define e que se encontra nos cafés e lojas de charutos cubanos. Lembro de estar em Cuba e alguém me dizer que se nadasse até à linha do horizonte chegaria a Miami. Quem diria que estaria em Miami, a relembrar Cuba.

Uma buzina suou familiar, fechei o bloco de escritas e corri para a Ocean Drive. Está na hora de regressar. Sorriso nos lábios, mente tranquila, alma renovada e um saco cheio de memórias. Objetivo cumprido, obrigada Miami!

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