O que eu gosto menos é… Não!

O que eu mais odeio nesta vida é… Sim!

O que mais odeio nesta vida é o momento que antecede uma despedida. O não saber começar uma despedida ou quem lhe dá início. Quando sabes que acabou, que vou embora e que nada mais há a fazer senão despedir.
Mas não agora, só amanhã, só daqui a pouco, só daqui a uns minutos ou horas.
A falsa calma, as palavras que mascaram a dor, os olhos que agarram o choro, a garganta que seca e o coração que dói por antecipação. O não falar do óbvio porque magoa. O não saber lidar com o que prestes está a acontecer. O vazio que antecede e se estende interminavelmente. O saber que o conforto está a terminar.
Mas não já, só daqui a pouco…

Odeio.

Odeio isto.

Odeio esta merda!

O silêncio constrangedor, o quebra-gelo pateta, o abraço que ainda não é o último e o beijo aflito. O beijo que se queria gigante, para beijar toda a alma numa só vez. O beijo que sobrevivesse ao sabão, desmaquilhante e cremes hidratantes. O beijo que ficasse tatuado e que viesse à tona da pele quando a saudade me embacia o caminho.  O abraço apertado e a pergunta da praxe:

– Quando te volto a ver?

– Eu não sei…

O antes da despedida é como a última descida da montanha russa, ou a parte que se segue à descida até nos imobilizarem. Não se sente nada, é o momento que não se vive e que não se dá importância. Só se pensa em quem deixámos e as certezas de um futuro incerto. O não saber porque vou e porque lá fico. Não há nada para além disto, nesse momento. Não há nada a não ser apatia, uma boca trémula e uns olhos doentes.
Os dilemas projectados à noite, no tecto do quarto, ganham vida. E estou sozinha.

E mesmo assim, odiando esta ansiedade eu não dobro. Recuso-me a não me despedir de alguém, só porque odeio despedidas. Não sou egoísta, não penso só em mim e dos fracos não se rezam histórias!

Dois anos passaram. Faz hoje dois anos que deixei Portugal. O tempo passou, a mala cor-de-rosa foi perdendo a cor, as roupas ficaram gastas, as rugas acentuaram e cresci como mulher. No entanto, existe algo que não mudou. Algo que é exatamente igual a quando parti. A dor da saudade. A excruciante dor que não diminui, não aumenta, não tira férias ou folgas, que não desarreda pé. Que marca presença diária e com a intensidade que lhe apetece. A dor que ataca fulminantemente quando mais sensível estou. E isso, não mudou… Nunca vai mudar. Nunca fica mais fácil.

É verdade, o que escrevem nos livros antigos… Nunca fica mais fácil.

É a minha sina, a minha cruz e fado há dois anos. Também a sina de quem um dia emigrou para o mundo, e a todos os irmãos de pátria que celebram anos de navegação e descoberta um bem-haja.

Que não vos falte a coragem, nunca. E se faltar, segurem-se bem. Aguentem a dor e façam os que vos faz feliz.

Talvez seja o último ano de celebração.

Talvez sim, talvez não.

Quem sabe?

Obrigada a quem aqui, fisicamente, me levanta quando tropeço em pedregulhos camuflados.

Obrigada a quem aí, me dá as armas e a coragem para batalhar os monstros que moram debaixo da minha cama.

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6 Comments

  1. Carolina

    Porque foste para NY? O que fazes por aí? Gostava de um post sobre isso 🙂 . Continua a escrever, gosto muito de te ler!

    • Michelle Rita

      Ola Carolina 🙂 obrigada pelo teu feedback. Escrevi um texto, de nome Muricaland, que responde ao que me perguntas. Espero que gostes 🙂 beijinhos

      • Carolina

        Li agora… que coragem! Que experiência! Que continues a ser feliz e a partilhar as tuas aventuras 🙂 beijinhos