Eu e Portugal estamos a dar um tempo. Apesar de continuar a amá-lo, a achá-lo o mais sexy de todos e a defendê-lo com unhas e dentes, ele já não me faz feliz. Portugal ficou-me com a casa, o carro, as joias e com todos os meus também. Não lhe guardo rancor, sei que ele me deu tudo o que podia dar. E quem dá o que tem, a mais não é obrigado. #somostodosprovérbiospopulares

Sei que vamos ficar juntos para sempre, sinto-o. Por agora, decidimos amadurecer por caminhos diferentes para que o nosso futuro seja eterno. Prometi-lhe voltar com um melhor currículo e mais paciência para as filas na loja do cidadão. Ele prometeu reunir melhores condições, de trabalho e humanas, para mim e para os meus. Sim, porque virei costas para ser mais, melhor e para ajudar quem me rodeia. Não há falta de amor, decidimos ser adultos. E os adultos pedem tempos, quando não conseguem viver juntos nem separados. “Eu sem ti, quem era eu sem ti”. #somostodostony.

Sinto a falta dele e engana-se quem pensa que isto é um mar de rosas. É difícil ver Portugal sofrer e não estar perto. Assistir ao Éder e ao Salvador trazerem as taças para casa e não partilhar com ele as lágrimas eufóricas. É ficar com o coração do tamanho de uma ervilha, quando as labaredas de Verão o engolem e matam os inocentes. Dói querer abraçar o meu país quando um oceano nos separa, mas dá conforto ver todo um povo unido por causas maiores que o próprio umbigo. #naçãovalente

Grito de saudade. Gostava que estivesses aqui, que visses de perto tudo o que conquistei desde que nos deixámos. Amadureci tanto e aprendi que ser emigrante é:

– Desejar boa noite quando aqui ainda é dia.

– Sentir tudo através de um, mini ou grande, ecrã.

– Dizer adeus, sem garantias de voltar a ver quem amo na mesma condição física em que os deixo.

– Afeiçoar-me a pessoas que não conheço, porque te procuro em todo o lado.

– Ver a minha ambição crescer, os sonhos realizarem-se e sentir-te cada vez mais distante.

– Desenhar traços de giz na ardósia, que contam os meses que faltam para voltar a ti.

– Lutar contra o tempo que me faz esquecer a tua voz, abraço, memória e cumplicidade.

– Ganhar uma coragem desmedida, uma capacidade de engolir as emoções e de controlar o impulso de querer ir embora sem olhar para trás.

Eu sei que és tão mais do que aquilo que dizem! Eu acredito em ti, confio em ti, eu amo-te caramba! Quero voltar para o conforto dos teus braços, quero muito, mas não sei quando o posso fazer. Acho que ainda não estamos prontos, concordas? #coraçãodemelão

Por favor, diz a Aveiro que também a amo e que estou condenada a isso para sempre. Aveiro… Que saudades tenho tuas! Sinto falta das nortadas de sete dias, daquelas cheias de mau-feitio que nem três pára-ventos na praia me safavam. Tu sabes…. Aquelas que me impediam de pedalar na ponte da Barra, me enchiam os olhos de água e me chicoteavam as pernas com os grãos de areia. Que tornavam os dias de sol em tardes de nevoeiro, sem que ninguém desse por ela. Queria muito três dias da tua nortada aqui, especialmente nas tardes de 40 graus, à sombra, que me fazem derreter e suar do bigode. #elesdizemquetodastemosbigode

Os moliceiros, as salinas, as tripas de chocolate, os ovos-moles, os traçadinhos, a BUGA, os buracos no alcatrão, os autocarros de hora-a-hora, o parque da macaca, os trajados da UA, as quartas-feiras loucas na estação da Luz… Ai…

E a Gafanha da Nazaré? Os atalhos que ninguém conhece, a secundária que virou palácio quando a deixei, as gingas, as casas às riscas, o farol, o jardim Oudinot, o festival do bacalhau (com o Prince nos bastidores), o cortejo dos reis, a praça aos sábados, o centro cultural (que acolhe agora artistas à séria), as 150 pastelarias e os 79 cabeleireiros. Sendo o PH7, o melhor de todos. #temostodoscunhas #nãovoufalardaquelaterra.

É Portugal… És um burro velho com um espírito jovem. Não te troco por nada, não deixo que te difamem e não vou parar de te amar. Nunca.

O bom filho a casa torna, por isso espera por mim que eu volto. #comoumaforçaqueninguempodeparar

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