31 de Janeiro 16, 6h da matina
Corria atrasada pelos corredores do aeroporto. Acelerada e descalça passei a segurança, quase perdi o avião, e inaugurei a minha primeira viagem sozinha. Os meus pais não lhe acharam piada, meses antes Paris havia sido palco da morte e do terror. Mesmo assim, e a medo, comprei o meu bilhete (mal sabiam eles que os preparava para o que mais tarde fiz).
Bienvenue! Bonjour, bonjour!
Procurei o autocarro para o centro e pela janela colori as primeiras imagens de Paris. Quem me acolheu, por um par de noites, já me esperava, respirei de alívio e corri entusiasmada. Ensinaste-me o sistema do metro, deste-me a chave de casa e segui sozinha na busca da minha ideia de Paris. Sabia exatamente o que queria ver e o tempo que tinha, sem esquecer o que me levou ali e não a outro sítio. Entrei no metro e tive medo, havia militares armados em cada esquina e lembrei do que na TV tinha visto e ouvido. Procurei combater a ansiedade em que me mergulhei e foquei nos factos. Naquele momento, Paris era a cidade mais segura para se estar e as coisas más acontecem também à porta de casa. Respirei fundo e aceitei o cenário.
La tour Eiffel!
Saí do metro e vi-a de imediato. Todos os caminhos levaram-me a ela e bem de perto me sentei, a ler, a aquecer a alma com um chocolate quente e um croissant de queijo. 2h ali estive e é esta a minha recordação favorita. A Torre Eiffel a ganhar luz e forma com o anoitecer precoce e eu repleta de paz. Dezenas de casais apaixonados, noivos fotogénicos, cães de trela, e selfie-sticks ambulantes passeavam sem me prestar atenção. Contemplei-os pensativa e sorridente. Pertenci àquele quadro, era esta a minha imaginação de Paris.
Comi um crepe, sujei a camisola e entrei no Louvre, gratuitamente porque tinha 25anos. Explorei o museu, vi a Mona Lisa, fui fotografada por estranhos, ultrapassei centenas de chineses e quando me senti realizada parti. Rumei ao Arc de Triomphe e aos Champs-Élysées, iluminados ainda pelas luzes de Natal, propositadamente esquecidas. As vitrinas e boutiques caríssimas refletiam as mulheres elegantes com sacolas, os homens altivos de bom gosto e os turistas. A multidão e o sotaque francês acompanhava-me, eu com o bonsoir e o merci na ponta da língua. A caminho de casa comprei a baguete, relaxei e dormi.
Abri a pestana bem cedo e fui ao encontro de Notre-Dame. Contemplei-a e a música do filme da Disney ecoou no meu ouvido. Desejei que as minhas irmãs, companheiras das maratonas cinamatográficas, estivessem comigo. A catedral é imensa, preenchida de vitrais, incessos, preces e silêncios. Nostalgicamente fiquei a meditar. Tudo era exatamente como havia visto e suposto. Não vi nenhum corcunda ou gárgulas a cantar, mas a minha imaginação não deu tréguas. Almocei por ali, pelo Wi-Fi mostrei que estava bem, bebi um copo de vinho e segui.
O meu bloco de viagem apontava Montmartre, Sacré-Cœur e a rua dos pintores como paragens obrigatórias. Perdida deambulei por aquelas ruas, orientada pelo som dos violinos, onde dezenas de pintores esboçavam aquele ambiente mágico, quase impossível de pintar. Durante horas não disse uma palavra mas todo um diálogo interno de sons, cores, toques e cheiros coexistiam e arrepiavam-me a pele. Infiltrei-me na escadaria do Sacré-Coeur e no centro das conversas francesas e da boa música que ali tocavam me deixei descansar.
Fugazmente vi o Moulin Rouge,recordei Satine e Christian apaixonadamente a cantar “Come what may”, e voltei para casa. De madrugada parti no mesmo autocarro, em direção ao avião que me levaria a Roma. Revi as fotografias que me tirei e tiraram, sorri e dei-me uma palmadinha nas costas.
Merci Paris, à bientôt!
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