Cada vez mais a sentia longe e a desistir. Já não sabia o que fazer por ela.
Deitada no escuro examinava o nada, embalava-se para dormir e de manhã ficava à janela do quarto. Com os braços entrelaçados e pousados no parapeito memorizava aquela paisagem, por largos minutos, para nunca esquecer.
Apática, pensativa e cabisbaixa ignorava o passar do dia, trabalhava com um sorriso forçado e quando conduzíamos para casa ela desfazia-se num choro angustiante e aflito. Á porta de casa, limpava as lágrimas e aguardávamos que os olhos recuperassem tamanho e cor. Tentava animá-la, fazendo-a recordar momentos felizes e patetas, mas em vão:
– Já chega Alice, agora não. – Dizia cansada.
Tudo isto é culpa minha, eu sei. Mas ela merecia mais e melhor, tantas vezes me disse! Ela pertence ao mundo, arrebatador e imenso, perfeito para uma mulher como ela. A sua alma ressacava novos lugares, experiências e amores. Queria voar e sonhar, mas faltava a coragem. E eu não ia ser espectadora da morte desta alma, recusei-me vê-la desaparecer! Por tudo isto, um dia, quando a senti frágil e distraída comprei a viagem, só, de ida para os USA. Ela congelou, sentiu um aperto no coração, engoliu em seco e não me falou.
O dia foi chegando e ela perdeu forças. Chorava em público e para se adormecer. Várias vezes acordou sem ar. Outras várias vezes, encontrei-a estatelada na praia a beber a luz das estrelas. Havia chegado a hora de abandonar tudo aquilo que a deixava, demasiado, confortável.
Não convivemos até que a abraçaram pela última vez.
Perdida, ela arrastava-se para a porta de embarque, desviou caminho até à casa de banho e quando se olhou ao espelho viu-me:
– Tu não estás sozinha, eu estou aqui. Vamos juntas, pode ser? – Sussurrei-lhe.
Ela acenou, contemplou o chão e levantou a cabeça.
Ainda hoje há dias difíceis, mas ela é capaz. Ficarias admirado (a) com as estratégias que ela inventa para afastar a saudade.
Quando entrei naquele avião, trouxe as melhores recordações de quem a ama e a deseja perto. E quando a coragem lhe falta, ela encosta-se e eu aconchego-lhe o coração com um filme de memórias divertidas, amigos que valem a pena e sonhos futuros. Ela sorri e adormecemos em paz, lado a lado.
Foi a melhor decisão que tomei por ela, e por nós.
Comments are closed.