O pássaro nunca foi, ou é, o meu animal preferido. No entanto, invejo-lhe o voo. Nem só a liberdade, mas o abrir d’asas e voar.
O ver de longe o mundo imenso. O ir, sem medo das alturas, dos cantos virgens ou dos monstros nos penhascos.
Sem hora para voltar. Na procura insaciável de um palreio feliz.
Sou eu pássaro, achando ser animal selvagem. Mas sou pássaro de gaiola, não dos que ficam mas dos que voam. Dos que voltam.
A uma gaiola não vazia. À nossa gaiola, de porta aberta e grades invisíveis.
E eu que nunca acreditei num pouso meio ocupado, sempre te olho por cima do ombro quando me vou. De olho molhado e coração vazio. E tu, de coração pequeno, sopras no meu rasto e beijas-me à ida.
E só por isso eu volto.
Porque no teu sopro, há juras e não domas. Há novelo corrido, nós nas pontas e atlas no meio.
Neste nosso voo, não simultâneo, há o compromisso, a consciência, a verdade, as falas, a cumplicidade e o respeito.
Há a boa saudade.
Há certezas.
Há linguagem do amor entre nós.
Tu e eu falamos a língua do amor.
E enquanto se falar amor, mudos são outros mundos. Não há outras vozes.
No teu toque, sou diamante esculpido pelos deuses. No teu beijo sou pertença, no teu amor implacável. Chama que não apaga.
Nos teus olhos há crianças, há casa na árvore e marca de anilha queimada. Há branco.
Na distância, a clareza.
Das minhas incertezas tu não fazes parte.
Estás comigo em qualquer lugar deste mundo.
Encontrei-te.
Comments are closed.