Se amanhã me dessem tempo para te ver outra vez, não saberia o que vestir. O que dizer, o que sentir.
Vestiria o que guardei da tua roupa, talvez. Para que visses que não me desfiz do que te dava forma, cor e memórias.
Vou vestir o teu fato de treino azul da Adidas, aquele listado que usavas ao sábado.
Serve-me, não sei como. Gostava que o tivesse vestido num sábado de manhã. Quando acordavas tarde, gostavas do teu sono em dia, aparecia-te vestida nele.
Bom, se amanhã tivesse encontro marcado contigo, já saberia o que vestir.
Não saberia o que te queria contar, mas oferecia a verdade. Nunca gostaste de meias verdades, ou mentiras infundadas.
Dizia-te que me perdi, quando te perdemos. Que morri contigo. E que me morreu também uma parte feliz, que não mais voltou.
Acho que ficaria em silêncio, sem pestanejar e sem expirar profundamente. Para encher os frascos imaginários que guardo cá dentro, com o teu cheiro que, em seis anos, evaporou. Para renovar o banco de imagens tuas. Para gravar a tua voz, para que seja fácil te ouvir.
É cada vez mais difícil.
Continuo a sentir o futuro demasiado eterno sem ti. O que fazer aos tantos anos sem ti? Um todo para sempre sem ti.
Talvez te escondesse no bolso todas as cartas digitais que te escrevi, para que lesses quando o nosso tempo acabar.
Engraçado, parece que te entendo melhor agora. Como se o crescer não se alimentasse da carne.
Engraçado como te sinto aqui ainda, mas eu não gosto das frases feitas.
Sinto-me feia sem amor. Sem o teu, também. Só com o meu também.
Vais olhar-me confuso.
Continuo a ouvir as frases feitas, como se eles soubessem a verdade.
Não te quero em lado nenhum e em todo o lado. Quero o que não tivemos e o que nunca poderemos ter.
Se amanhã te visse, era isto que te diria.
Não perguntaria se sentes orgulho do meu caminho, atos e decisões. Vejo isso no que resta da minha memória de ti. E no como viveste.
Contaria os planos futuros, poupava-te dos desapegos.
Gostava muito que esta nota ganhasse vida, como nos filmes da Disney.
Gostava muito que nos dessem esse tempo.
Prometo que guardo segredo…
Até amanhã?
1 Comment
Adorei … alias tens o poder da palavra. Bjs