Hoje dei com as chaves de casa num casaco de Inverno que arrumei na passada quinta-feira. Eu não sou de perder coisas importantes, não sou desatenta ou esquecida. Em vinte e nove anos da minha vida, perdi a carteira uma vez. Hoje, depois de oito horas de olhos postos num…
Palma de Maiorca surgiu na panóplia de lugares bonitos e festivaleiros, eleitos competentes para receber uma despedida de solteira. Facilmente reduzida a um trio espanhol, fomos a votos e voilà: Palma de Maiorca. Sete mulheres, sete bagagens de mão (a rebentar pelas costuras) e muita vontade de fazer a festa…
Numa tarde, há onze anos daqui e no armário ambulante do meu avô, estávamos as duas sentadas na tijoleira branca rodeadas de pincéis e bases baratas. Entre as poucas palavras e muitas lágrimas disse-te o que a mim me diziam, e o que não executava. Tinha a tua cara presa…
Todas as cartas que me escreveste, todas li. Tenho em mãos um tesouro de dezasseis anos e na alma memórias, tuas e nossas. Tu e eu não estávamos destinados aos amores dos Romeus e Julietas. Não sei isto agora, que já não estás, sempre o soube e tu também. Quis…
Há neste, preciso e exato, momento, plástico suficiente para todos os seres humanos no planeta. Não é preciso gerar mais plástico, é só usar o que por aí já anda. Por aí… espalhado pelas praias, a flutuar pelos oceanos, esquecido nos parques, comido por gaivotas. Por aí… alojado nos narizes…
Um dia, não quando fores velhinha e não a poucos anos de hoje, vais compreender, como quem descobre vestígios de pólvora num campo de batalha, tantas palavras que eu e outros, como eu, te dissemos. Um dia vais lamentar o tempo que perdeste nas más decisões do teu inconsciente carente,…
Não acordei para ir à casa de banho.Não acordei sobressaltada de um pesadelo.Não acordei com sede.Não acordei durante a noite, como é frequente.Dormia tranquila, ainda bem que não acordei.E nunca mais dormi igual. Desde essa noite que não durmo em paz, desde essa noite que arranjo maneira de conseguir dormir.Eram…
Cravado na porta da casa um cachalote de ferro com uma pega. Na banca sarapintada da cozinha pão lêvedo, leite, água e manteiga regional. Na garrafeira, licor de maracujá. E pela janela do terceiro andar, há infinitos verdejantes e gado, preto e branco, que se arrasta pela paisagem. Estou nos…
Há muito tempo, talvez não há tanto tempo assim, eu escondia o meu sorriso com a mão côncava. Porque ainda há mais tempo, que o há muito tempo, alguém achou pertinente comparar o meu sorriso ao do burro do Shrek. Porque tenho as gengivas descidas e os dentes longos. Foi…
Este não é um feminista, não é um que nos faz a última bolacha do pacote dos géneros, não é um pedido de ajuda, uma escrita prova de que não somos inferiores ou um hino ao dia internacional da mulher. No meio destas letras falo da mulher, do amor que…