(Fecha os olhos, respira fundo e aviva os conselhos. Reflete) Tendo a vida deixado de ser vida, a vida continua. Tendo a vida perdido cor e sabor, ainda continua. Tendo perdido o Norte e o Sul, partido a bússola em quatro e o coração em mil, a vida continua. É,…
Dizem-me, em passados, presentes e futuros que eu vivo num mundo remoto. Num mundo fantasioso, a galáxias de distância da realidade. Num mundo que não existe. Também me dizem que sou uma romântica incorrigível, crente nos amores dos contos de fadas, na felicidade eterna e nos sonhos improváveis. Dizem e…
Quando nasci, as pestanas escureciam-me as pálpebras e quase roçavam as sobrancelhas em cada piscar de olhos. Nas poucas horas de mundo que colecionava, o meu cabelo escuro já me roçava os ombros. Era comprido e liso. Nas horas de mundo que agora compilo, não me recordo de nunca ver…
No bolso direito das minhas calças dorme o dinossauro, como carinhosamente o apelidei. É um Alcatel, que permite apenas chamadas e mensagens de texto. O ecrã é bem mais pequeno que o meu dedo mindinho, a bateria dura uma semana, a câmara exterior quase não funciona e o toque de…
Aterro em Barcelona mal disposta de tanto mau-feitio.Fujo de 2018, de Portugal e de um fim de ano que me pesa a alma, que me faz querer longe e de consciência pesada.Dois mil e dezoito foi o ano desalmadamente afortunado. O mais cruel e mais gratificante, nunca na mesma medida.…
Nem parece ser Dezembro, há má vontade que seja Natal. Não porque não neva, não por outro motivo que não ele. O ele não estar. A falta dele. O vazio. Há saudade, demasiada saudade. Uma saudade que anula o Natal, que levanta o curativo, que rasga os pontos e que…
Se eu morresse amanhã, Apanhava o primeiro comboio para Campanhã, Batia à tua porta de manhã, A trincar uma maçã e a cheirar a hortelã. Para a tua íris avelã eu despia o sutiã E à campeã deixava de ser sã. Se eu morresse amanhã, Dir-te-ia que contigo quero casar,…
Incertos estão de quando o jogo de xadrez começou, desde o primeiro início que se desafiaram. Que se quiseram provar e ter. Um tom de pele que agradou, uma gargalhada que saciou o ouvido, um olhar curioso, uma atração fatal, uma colisão de ímanes. Dançaram. Uma dança perigosa, como línguas…
Ele corria, de calções justos e azuis, com o emblema do GDG ao peito. Marcava golos, e tão alto a plateia ecoou o nome dele que por toda a Gafanha ficou conhecido. Ele, o Rita. De militar, a emigrante. De quebra-corações, a pai de família, a homem de responsabilidades e…
– Escreve com calma, não apresses o livro. – Mas tenho que o terminar no fim de Abril! – Porquê? Porque te estás a pressionar? – Não sei… – Depressa e bem há pouco quem! Faz lá isso com tempo. – Está certo… Assim que o terminar envio-te uma cópia…