Aprendi a exatidão dos números, a lógica da ciência, o nome dos oceanos, a força dos ventos e as teorias do desenvolvimento psíquico. Aprendi as estatísticas, os desenhos arquitectados, a História do mundo e o corpo humano. Contudo, gostava também de ter aprendido o que vem depois das aulas, das disciplinas e das cadeiras universitárias. Que me tivessem ensinado a viver esta vida, indomável e desregrada, que inventámos e nos julgamos capazes de viver.
Que me tivessem ensinado a vivê-la sem perder a consciência, a clareza e o otimismo.

Desejava que me tivessem consciencializado da morte, com a mesma naturalidade com que me ensinaram a reciclar. Que tivessem insistido na finitude humana. Que podemos não chegar a adultos, aos casamentos, aos filhos e às profissões de sonho. Da eventualidade de nos morrerem os pais, avós, irmãos, filhos, colegas de escola e melhores amigos. Sem previsões ou com cancros destrutivos. Que encarássemos a depressão, a insegurança, as dúvidas existenciais e os vazios inesperados como batalhas mortíferas, só combatidas por forças nucleares.
Gostava que me tivessem ensinado a viver sem a certeza do amanhã.

Que ensinassem que não há trabalhos para a vida toda. Que é pouco provável encontrar um trabalho que nos preencha infinitamente, que vamos ser despedidos e rejeitados. Que nos vamos sentir deslocados, insuficientes e inexperientes. E que não é obrigatório provar o contrário a ninguém, porque ser diferente é bom e remar contra a maré é possível. Que me tivessem dito que há espaço para todos e que é também possível traçar o nosso caminho. Criar a nossa própria profissão, concretizar os nossos anseios e dar volume às nossas capacidades.
É possível ser feliz à nossa maneira. Com muito ou com muito pouco.

Tudo isto sem que o mundo desabe. Porque o mundo só acaba com a morte, porque a vida é breve e porque são os medos mentais, que criamos, o que nos cola ao chão.

Que também ensinassem na escola que mudamos. Que alteramos gostos, personalidades e curiosidades. Que nos vamos conhecendo e vivendo. Que todos os dias devem ser aproveitados, memoráveis e encarados com um sorriso. Que deveríamos partilhar, abraçar, beijar e falar mais. Deixar nos outros uma memória feliz, porque são as memórias que ficam. Quando não houver fotografias para segurar, perfumes para cheirar, corpos para apertar e bocas para se beijar, perpetuam as memórias.

Hoje há bruma.

Este nevoeiro mal oculta a luz que recuso ver, a brisa primaveril vai soprando a ilusão que me desprotege e as labaredas do sol aquecem o vazio de um coração amputado. Não acordo de um pesadelo porque nunca adormeci. Estou estatelada dentro de mim. Esmagada contra o chão, com a bota da realidade a pisar-me a cara e a impedir que me levante.

Eu luto. Palavra que sim.

“É a Hora”, escreveu Fernando Pessoa.

Está na hora de aprender, de ensinar, de ver partir, de levantar e de voar.
Há um mundo por descobrir.

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