Éramos ainda só os quatro quando, naquela noite, passeávamos pelo Fórum Aveiro em família.
Aborrecidas começámos na picardia e a jogar ao “fica-te” (este é o jogo onde nunca te podes ficar. Se eu te tocar tens de me perseguir e tocar de volta, não te podes ficar).
As pancadas começaram a ficar mais pesadas e brutas. Circulávamos pelo fórum a bater uma na outra, enquanto ouvia a mommy a gritar para pararmos. Mas o jogo do fica-te é tão poderoso e viciante!
Estava em vantagem, havia-te acertado em cheio no meio das costas e por isso corrias irada atrás de mim. Repentinamente, vi uma poça de água e saltei, como estavas mesmo nos meus calcanhares não a viste. Escorregaste e espatifaste-te no meio da rosa-dos-ventos.
Olhei-te e desfiz-me às gargalhadas. Parecias, literalmente, um peixe fora de água, a contorceres-te molhada no chão. Quem por nós passou, observou sem prestar auxílio. A custo, levantaste-te e quando te vi chorar corri à procura da mommy.
Preocupada, ela acelerou o passo e mandou-me uma cachaçada:
– Eu avisei… Tu pára de chorar! Parecem umas miúdas, pá! – Resmungou.
Em silêncio fomos para casa. Tu a aguentares o choro e eu o riso, a imagem de ti a estatelares-te repetia na minha mente. No entanto, estranhei ainda te estares a queixar, logo tu!
Preparadas para ir para a cama sussurraste, segurando o mindinho direito:
– Mom, o dedo dói-me muito…
– Deixa ver… Não está partido. Vai dormir que isso passa! – Analisou a minha mãe arreliada.
Sorri e fui dormir.
A minha irmã não dormiu. Foi ao hospital e saiu com uma tala no dedo e o braço ao peito. A mommy adorno-a de chocolates e mimos, fruto de uma consciência pesada. E eu perdi o riso quando te vi assim, nunca foi objetivo magoar-te.
Quando o mindinho dá sinal, sei que recordas esta história. Contudo, quero também que te lembres que te ficaste. Nessa noite, eu fui a campeã do fica-te (e com os dedos todos no sítio).
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