Na minha frente uma moça que sorri pensativa, pela janela do comboio, enquanto roda a aliança do anelar esquerdo.
À espera da próxima paragem, um casal apaixonado que se beija sem vergonhas.
No assento prioritário, uma idosa escuta atentamente o neto que, com a mãozinha a tapar a boca, lhe sussurra ao ouvido. Ela ri e acena.
A meu lado, uma senhora que escuta atentamente alguém que, pelo ecrã do telemóvel, se expressa irritada. Não falam inglês, devem estar separadas por milhares de quilómetros, mas é ali que se encontram.
Todos eles sentem amor. Várias formas de amor. Amor que é lembrado por uma aliança, por um beijo, por um sussurro ou por videochamada. É o amor. É amar e ser amado, a maior virtude que um ser humano pode experienciar. É grátis, original, benévolo e vital.
Também eu sinto amor. Um amor sem aliança, beijos de paixão, sussurros mas com centenas de videochamadas. Um amor avassalador, repartido por quem me permite sobreviver.
Como se eu fosse uma árvore, com rama, galhos, ninhos e flores. Assim é a fisicalidade do meu amor. Com algumas folhas no chão, no entanto nunca esquecidas.
O meu mundo é amor.
Sinto mais vezes que amo do que sou amada, mas esta é a minha mania de acreditar que o mundo não é tão fabuloso como o vejo. De naturalmente reagir ao que é mau e ficar sem reação com o que é bom. Porém, sei que o meu mundo é amor porque o sinto nas pequenas coisas. Num silêncio, num olhar que fura a alma, num agarrar de mão, numa lágrima partilhada e numa gargalhada de faltar o ar. Sei que sou amada quando, ao telefone, choro ofegantemente e do outro lado ouço apenas silêncio. Porque não há nada a dizer senão estar ali, daquele lado. Sinto amor quando sem dizer uma palavra sabem como me sinto, o que vou dizer e fazer. Porque me partilham com o mundo e me empurram neste caminho para continuar feliz. Eles sentem amor não pela distância, não pela saudade mas por mim.
Ai o amor…
Também sinto amor quando escrevo. Sinto ainda mais amor quando me leem.
Quem me lê dá-me muito amor… Um amor que me lança atrás de sonhos arrojados.
Amar e ser amado.
Amar tanto que parece que dói.
Amor com que aprendo. Amor que educa.
Aprendi que amor que não viaja distâncias, não é amor. Não é a distância que separa mas a falta de compromisso. Habituamo-nos ao silêncio, permitimos que a distância física faça esquecer o passado vivido, o que um dia nos uniu. Sei também que amor egoísta, violento, sugador e cobrador não é amor. Ser-se mal-amado, não é sentir amor. Sempre se sabe quando um amor não é amor. E não aceitar a falta de amor é proibir outro amor.
Falo de amor porque não quero nunca esquecer que há amor. Em mim, em ti e em nós.
E quando te magoarem e repelirem, como se fosses um mosquito mortífero… Quando doer mais do que esperavas que doesse. Quando a única coisa a fazer é ficar quieta no escuro, até que a dor se canse de te prender ou se aborreça de ser ignorada.… Mesmo aí há amor. Mesmo aí tem de haver amor. Amor por ti, pelo que és e não pelo o que os outros te querem fazer acreditar.
Amor por ti!
O amor mais leal e constante. Porque é teu, porque vem de ti, para ti e por ti. É irrefutável, seguro e eternamente teu. E esse é o amor mais poderoso e bonito de todos.
1 Comment
Que texto lindo Alice! Adoro a maneira como descreves este sentimento tão poderoso e profundo que move mundos e pessoas todos os dias. Concordo contigo quando dizes “Sinto mais vezes que amo do que sou amada, mas esta é a minha mania de acreditar que o mundo não é tão fabuloso como o vejo.”, é tão difícil viver a vida sem amar todos os dias, nem que seja um pouco. Houve momentos em que pensei que não amaria mais, a amargura de um coração partido e cansado falava mais alto que o amor que escorria pelas minhas veias, mas um dia, um par de olhos cor de avelã fez me perceber o quão bom é amar, e o quão bom é amar as pequenas coisas, que no fundo com tanto amor, acabam por ser grandiosas. Belo texto.
Beijinhos,
Beatriz Cruz