Wilson! – Alguém gritou.
Abri os olhos e contemplei a palmeira que me preenchia a íris. Ouvia-se o mar, o balanço das folhas e os passarinhos. Sorri. Lembrei do Wilson, a bola de volley do filme “O náufrago”. Com os antebraços dobrados, a suportarem os meus lábios, rodei a cabeça para o lado esquerdo. A Van ria do meu salto e ofereceu-me uma barra de cereais.
Ela estava ali, a um braço de distância. Só as duas, sem Internet, namorados ou compromissos profissionais. Disponíveis uma para a outra, a compensar todo o tempo que a nossa amizade esteve em pausa. Foi necessário a vida nos distanciar fisicamente para vivermos a viagem das nossas vidas, aquela que sempre sonhámos.
Varadero, o paraíso que se vê nos filmes. O mar brilhante, os verdes das palmeiras e a areia branca pintam a paisagem perfeita. A água é quente, translúcida e os peixes destemidos nadam em torno dos nossos pés.
Era meio-dia. A Van e eu apanhávamos conchas, de joelhos no mar, o nosso projeto diário. Dois jovens entram na água com duas garrafas de cerveja, captou-nos a atenção porque eram miúdos. Mas é Cuba, está calor, deixai as crianças embebedarem-se. Momentos depois as garrafas rebolavam perto de nós. Obviamente que nos passámos da cabeça. Certo é que o ar, ou o mar neste caso, é de todos mas respeitemos o ambiente. Pegámos-lhes, gritámos “Chicos!”, balbuciámos algo em espanholes, peguei nas garrafas e fui colocá-las ao lixo. No areal estão centenas de caixotes de lixo nada justifica aquele ato. Infelizmente, são muitos os que agem assim. No final do dia, assistimos ao pôr-do-sol e às montanhas de lixo no areal e no mar. Toda aquela poluição humana partiu-me o coração.
De volta ao nosso Air B&b, a Eneida (a senhoria) desafiou-nos para uma matinê na Casa de la Música. E lá fomos nós, as 3 Marias, dançar o nosso final de tarde. Algumas Bocarenos depois jantámos e dormimos como anjos. A Eneida é simpática, estudada e generosa. Ela faz-nos querer voltar.
Na manhã seguinte embarcamos num barco turístico para Cayo Blanco, com bar aberto e almoço incluído. Um sonho! Digamos que tudo fica mais divertido quando as bebidas são intermináveis, a água é transparente, o sol brilha e os peixes são coloridos. Rimos, socializámos, comemos lagosta fresca, fizemos snorkeling e participámos nas danças e jogos coletivos. No entretanto, conhecemos 3 portugueses. Deixa que te diga, há mesmo um português em cada canto do mundo. Pelos dezassete países que viajei não houve nenhum, NENHUM, em que não esbarrasse contra um Tuga. Por algum motivo somos sempre atraídos uns pelos outros. Como se gostássemos dos mesmos sítios, hotéis, restaurantes ou praias. Ainda bem que assim é, as minhas viagens não estão completas se não encontrar um irmão da pátria pelo caminho.
Varadero deixa saudade, este pedaço de paraíso encaixa na perfeição em todos os sonhos de quem a visita.
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