Frequentemente a solidão e o medo me levaram a viajar. Quando procurei respostas viajei, comprava bilhete para me encontrar. Noutros tempos, quando não tinha fonte de rendimento, as viagens aconteciam mais perto mas bem mais longe. Batia a porta de casa, calçava os chinelos de rua, olhava o céu e descia as escadas. Com ou sem a manta verde-garrafa às costas, caminhava com rumo e certeza que descobriria o que procurava.
No topo das escadas, no grande terraço, estendia ou não a manta, deitava as costas no cimento sujo e lá ficava. Horas a contemplar a noite brilhante. Eu e um infinito azul sarapintado de prata e luz, que embalava a minha alma. Pensamentos infinitos, lágrimas sentidas e olhares perdidos na escuridão, da qual eu fazia parte. Encontrei-me todas as vezes que bati as costas naquele terraço, no meu pedaço de paz.
Muitas vezes eras tu, Alice, quem me atraia. Sempre soube que eras a estrela mais próxima da lua, a que cintilava e marcava presença aquando me estendia, ali, desorientada. Tantas recordações tuas me assombravam e tão vivamente te senti, como se nunca te tivesse perdido. Ouvias e respondias, era ali que te abraçava novamente.
Hoje, de onde estou, os prédios gigantescos ofuscam as estrelas e eu não te vejo. Porém sinto-te perto, tão perto como outrora. Talvez por tudo isto continue a viajar, nesta procura incessante de encontrar rumo e felicidade, em atos tão simples como admirar e divagar pela noite.
Alice, eu viajo para te encontrar. Sempre.
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